Noções Básicas Sobre Operação de Máquinas Elétricas (Motores e Geradores Elétricos):
Quando falamos em
veículos automotores para o público em geral, estamos falando de um
produto comercial que, apesar de poder ser olhado sobre vários
aspectos, ele atende, acima de tudo, as necessidades de mobilidade
dos seus adquirentes. Mas quando falamos de veículos automotores
para técnicos e engenheiros (que é a pretensão deste blog), precisamos ir além e tratar em
detalhes de aspectos técnicos de suas partes principais. Uma dessas
partes é o motor do veículo, a máquina que converte a energia
armazenada no combustível do tanque ou na eletricidade da bateria em
força motriz.
Pela definição
clássica, o termo "Máquina Elétrica" é sinônimo
de ambos, tanto de “Motor Elétrico” quanto de “Gerador
Elétrico”, os quais são conversores de energia
eletromecânicos, capazes de realizar tanto a conversão de energia
elétrica para energia mecânica (motor elétrico) ou de energia
mecânica para energia elétrica (gerador elétrico). O movimento
envolvido na energia mecânica pode ser linear ou rotativo. Nas
aplicações em sistemas de propulsão de veículos automotores, em
geral, emprega-se máquinas rotativas.
Na grande maioria das
aplicações das máquinas elétricas, incluindo, entre elas, a
aplicação em que um “motor” é destinado para ao sistema de
propulsão de Veículos Elétricos (VEs), é muito mais correto se
manter o uso do termo “máquina elétrica”, principalmente pelo
fato de que ela (a máquina elétrica) estará, eventualmente,
operando em ambos os modos: tanto no “modo motor” como no
“modo gerador”, dependendo do regime de movimento da
máquina elétrica.
O modo que a máquina
elétrica opera depende do modo como o próprio veículo está sendo
conduzido. Se o veículo é conduzido em “modo de tração”
(onde existe aceleração ou manutenção da velocidade do VE), a
máquina elétrica opera, efetivamente, como um motor. Todavia, se o
veículo é conduzido em “modo de frenagem” (em que ocorre
desaceleração do mesmo), a máquina elétrica que (erroneamente) chamamos de
motor, na verdade, operará como um gerador elétrico.
Em muitas
aplicações, incluindo entre elas
aplicação em sistema de propulsão
de VEs, as máquinas elétricas precisam ser hábeis
para operar movimentos em dois sentidos:
marcha avante e marcha a ré. Em geral, a mudança
de sentido de movimento do VE implica,
consequentemente, na mudança do sentido de giro (horário ou
anti-horário) do eixo da máquina elétrica rotativa dele.
Assim, os modos de operação “modo de tração” e “modo de frenagem” devem ser considerados para ambos os caso de sentido de giro e, com isso (2 modos de operação x 2 sentidos de giro), tal sistema é caracterizado pela Operação em Quatro Quadrantes.
Com efeito, para cada sentido de giro do eixo da máquina elétrica, podemos identificar três diferentes regimes de movimento para ela:
Com efeito, para cada sentido de giro do eixo da máquina elétrica, podemos identificar três diferentes regimes de movimento para ela:
- Aceleração (intervalo de tempo ΔT1);
- Estável (ΔT2), e;
- Desaceleração (ΔT3).
Conforme o gráfico ao lado (onde n representa a velocidade), que apresenta o comportamento da velocidade para cada um dos regimes de movimento e o correspondente modo de operação da máquina:
Por conta disso, todos os
VEs, sem exceção, não importa se ele for uma pequena motoneta (uma scooter), ou se ele é um
grande trem de tração elétrica, os seus sistemas elétricos de
potência precisam dispor de circuitos que sejam capazes de fazer a
energia fluir de maneira bidirecional.
Sendo bidirecionais, tais
circuitos serão capazes de transmitir a energia elétrica nos sentidos:
- A partir da fonte de energia elétrica (seja esta fonte uma bateria ou a rede elétrica) para energizar a máquina elétrica, quando ela opera como um motor (no modo tração) e,
- Operar em sentido reverso, ou seja, transmitindo a energia elétrica a partir máquina elétrica, quando ela passa a operar como um gerador (no modo frenagem) e, (inteligentemente) tentar aproveitar essa energia1, direcionando-a de volta para a fonte de energia (para ser armazenada na bateria, por exemplo), para posterior reutilização. Para isso são empregados Conversores Bidirecionais.
Trens e trólebus são
conectados por contatos elétricos deslizantes diretamente a uma rede
elétrica que é dedicada (exclusiva) para a sua aplicação. Tais redes elétricas podem
ser caracterizadas por oferecer energia elétrica em dois tipos de formato:
- em CC (Corrente Contínua, cuja tensão apresenta intensidade constante ao longo do tempo);
- em CA (Corrente Alternada, cujo valor da tensão varia de intensidade e, inclusive, alterna de polaridade periodicamente).
Existem outros tipos fontes de energia elétrica, tanto CC, quanto CA, que não poder ser ditos como dispositivos armazenadores de energia, pois elas perdem a sua capacidade fornecer energia, praticamente instantaneamente, quando elas próprias deixam de ser alimentadas.
Para maiores
detalhes sobre os modos de operação de uma máquina elétrica
aplicada ao sistema de propulsão de um VE, por gentileza, leia
também a postagem: Freio Regenerativo (Sistema de Recuperação de Energia Cinética)
O Princípio das Máquinas Elétricas (Com Uma História Bonita de Ser Contada):
Independente de qualquer
classificação, as máquinas elétricas apresentam a aplicação de
um princípio comum: o da Indução Eletromagnética,
cuja descoberta,
historicamente,
se deu, principalmente,
ao longo do século XIX.
A lei de Coulomb implica que a força resultante pode ser tanto de atração quanto de repulsão. |
Em 1785, o francês
Charles-Augustin de Coulomb apresentou o seu primeiro relatório
sobre Eletricidade e Magnetismo, onde ele descreveu que a força de
repulsão sobre os pólos magnéticos produzidos em objetos
eletricamente carregados (dois corpos eletrificados do "mesmo tipo de energia elétrica" ou seja, cargas elétricas de mesma polaridade)
exercem entre si, obedecida uma lei da proporção, inversa do
quadrado da distância entre eles. Isso viria, posteriormente, já no século XX (no contexto da nascente mecânica quântica) a ser titulado como uma das quatro forças fundamentais da natureza, a força da interação eletromagnética.
Chegando a 1802, o italiano
Gian Domenico Romagnosi (que era filósofo, economista e jurista e
não era um cientista da Física), realizando experiências sobre as
primeiras pilhas voltaicas (ou pilhas de Volta, as primeiras baterias
que podiam fornecer continuamente uma corrente elétrica a um
circuito, construídas pelo também italiano Alessandro Volta, a
partir de 1800), relatou que as cargas eletrostáticas presentes em
uma pilha voltaica podiam desviar uma agulha magnética. Ou seja,
mesmo partículas de cargas elétricas estacionárias (que se
encontram armazenadas no corpo de uma placa da pilha e não em
movimento ordenado por um circuito elétrico) apresentam o fenômeno
do magnetismo. Assim, podia-se ter
concluído que os elétrons provêm aos átomos da matéria uma característica magnética inerente, independente da corrente elétrica, mas os modelos físicos e matemáticos da época não estavam, ainda, prontos para permitir, com efeito, tal conclusão.
Em 1820, já lidando
efetivamente com a efetiva circulação de corrente elétrica provida por pilhas voltaicas, durante uma aula
na Universidade de Copenhague, o dinamarquês Hans Christian Oersted
percebeu que uma agulha de bússola desviava a partir do norte
magnético natural, quando uma corrente elétrica produzida a partir
de uma bateria era ligada e desligada em um condutor que estivesse
colocado próximo a ela, confirmando a existência de uma relação
direta entre eletricidade e magnetismo. Coube ao francês André-Marie
Ampère começar a desenvolver uma teoria matemática e física para
entender a relação entre eletricidade e magnetismo, ampliando o
trabalho experimental de Oersted e demonstrando que dois fios
paralelos que transportam correntes elétricas se atraem ou se
repelem mutuamente, dependendo se as
correntes elétrica por eles fluem no mesmo sentido ou em sentidos
oposto, respectivamente. Isto alicerçou os fundamentos da
eletrodinâmica.
Apesar da participação
de trabalhos de alguns outros pesquisadores, como William Sturgeon, que em 1824 pôs em prática a ideia do eletroímã, envernizando uma
ferradura de cavalo para deixá-la superficialmente isolante elétrica
e enrolando sobre ela diversas voltas espaçadas de um fio condutor
de corrente elétrica, e de Joseph Henry, que em 1827
sistematicamente melhorou essa ideia, simplesmente envernizando a
superfície o fio condutor a ser enrolado, criando um isolamento
elétrico, ao invés do ferro do núcleo, para formar uma bobina
compacta de múltiplas espiras sobrepostas, aumentando
consideravelmente a intensidade do campo magnético produzido, assim,
o eletroímã popular, e de Francesco Zantedeschi, que entre 1829 e
1830 publicou trabalhos sobre a produção de correntes elétricas em
circuitos fechados pela aproximação e afastamento de um ímã, é a
Michael Faraday que é creditado ter constituído, a partir de 1831,
uma lei básica do eletromagnetismo prevendo, com maior propriedade,
como um campo magnético interage com um circuito elétrico para
produzir uma Força Eletromotriz (FEM).
Isto se tornaria no
princípio fundamental de funcionamento de indutores em geral, de
solenoides, de transformadores (dispositivos que também são
classificados como máquinas elétricas, apesar de neles não haver
peças que se movimentem), e de muitos tipos de motores elétricos e
geradores. Na verdade, numa definição mais abrangente, máquina
elétrica é todo dispositivo cujo funcionamento se baseia no
princípio da indução eletromagnética que, com efeito, pode se dar
por duas maneiras:
- Espira (enrolamento) de condutor elétrico, se movendo no interior de um campo magnético estacionário (invariável2 e fixo no espaço);
- Espira de condutor elétrico fixa, e imersas no interior de um campo magnético variável.
Já, no caso de as espiras forem fixas, ao mesmo tempo em que o campo magnético também seja estacionário (de intensidade invariável), ai não pode haver indução eletromagnética alguma.
Campos magnéticos muito
mais fortes podem ser produzidos se um "núcleo" de
material ferromagnético, tal como ferro macio, por exemplo, é
colocado no interior do carretel de uma bobina, devido à elevada
permeabilidade magnética (μ) do material ferromagnético (dai adveio a denominação "material ferromagnético"). Isso é
chamado de um eletroímã de núcleo ferromagnético e, o próprio núcleo se torna magnetizado, devido a passagem de corrente elétrica pelo fio condutor da bobina, que induz fluxo magnético fechando caminho pelo núcleo.
Nestes eletroímãs, em geral, uma vez removida a circulação da corrente elétrica na bobina, o campo magnético que flui pelo núcleo entra, imediatamente, em colapso e, após um tempo relativamente pequeno, desaparece por completo o seu magnetismo, enquanto que, empregando imãs, sejam imãs naturais ou artificiais, o campo magnético não depende da manutenção de corrente elétrica, e sua existência, com manutenção da capacidade magnética, pode ser verificada por tempos tão longos que eles são chamados de imãs permanentes.
Nestes eletroímãs, em geral, uma vez removida a circulação da corrente elétrica na bobina, o campo magnético que flui pelo núcleo entra, imediatamente, em colapso e, após um tempo relativamente pequeno, desaparece por completo o seu magnetismo, enquanto que, empregando imãs, sejam imãs naturais ou artificiais, o campo magnético não depende da manutenção de corrente elétrica, e sua existência, com manutenção da capacidade magnética, pode ser verificada por tempos tão longos que eles são chamados de imãs permanentes.
Campos magnéticos
estacionários podem ser obtidos tanto por emprego de imãs
(opcionalmente denominados magnetos) que estejam fixos, quanto por
eletroímãs (eletromagnetos) que também estejam fixos, nos quais o
campo magnético é desenvolvido quando uma bobina é alimentada por
uma corrente elétrica do tipo CC. Como a intensidade da CC que flui
pela bobina é invariável, o campo magnético resultante é
estacionário, ou seja, possui uma intensidade constante em torno do
espaço em que ele se encontra fixo.
Nos tempos de Faraday, as
únicas fontes de energia elétrica mais facilmente concebíveis para
realizar a prática de seus experimentos, ainda eram as pilhas
voltaicas, que oferecem energia em CC. Fontes de energia elétrica em
CA, ou seja, máquinas elétricas operando tipicamente como
geradores, só viriam a existir mais tarde, justamente por que elas dependeram do estabelecimento prévio do seu princípio, para que elas pudessem ser, posteriormente, desenvolvidas.
Se, na bobina de um
eletroímã fixo fizermos circular uma corrente elétrica do tipo CA,
assim como a forma de onda da CA varia com o tempo, o campo magnético
resultante a partir do seu núcleo é, também, variável e, como a CA alterna, ele também alternará de polaridade. Isso é
o que possibilita induzir corrente elétrica para uma segunda bobina,
também fixa, que esteja montada compartilhando o mesmo núcleo da
primeira bobina (princípio dos transformadores).
Deste modo, nos transformadores, transfere-se energia elétrica aplicada sobre uma bobina (primário) para uma outra bobina (secundário), mesmo estando elas galvanicamente isoladas (sem contato metalmecânico ou qualquer tipo de contato elétrico direto) entre si. Este foi o princípio que, décadas mais tarde, permitiu, também. que o croata (naturalizado norte-americano) Nikola Tesla começasse a eletrificar o "mundo dos seres humanos" e, também, é o princípio empregado nos modernos “carregadores sem fio” (usados carregamento wireless de dispositivos móveis e VEs), que o mesmo Tesla quis desenvolver, em seu tempo, mas para aplicação a grandes distâncias, e ele não conseguiu (e ninguém ainda conseguiu, satisfatoriamente, até os dias de hoje).
Deste modo, nos transformadores, transfere-se energia elétrica aplicada sobre uma bobina (primário) para uma outra bobina (secundário), mesmo estando elas galvanicamente isoladas (sem contato metalmecânico ou qualquer tipo de contato elétrico direto) entre si. Este foi o princípio que, décadas mais tarde, permitiu, também. que o croata (naturalizado norte-americano) Nikola Tesla começasse a eletrificar o "mundo dos seres humanos" e, também, é o princípio empregado nos modernos “carregadores sem fio” (usados carregamento wireless de dispositivos móveis e VEs), que o mesmo Tesla quis desenvolver, em seu tempo, mas para aplicação a grandes distâncias, e ele não conseguiu (e ninguém ainda conseguiu, satisfatoriamente, até os dias de hoje).
Diagrama representativo do aparelho anel de ferro de Faraday. O chaveamento da corrente na bobina da esquerda provoca alteração do fluxo magnético dela e induz uma corrente na bobina direita. |
No entanto, (espertamente) Faraday utilizou-se, mesmo que de modo precário, da técnica de
chaveamento de CC em seu
experimento, gerando impulsos intermitentes de corrente,
fazendo com que o campo magnético produzido também pulsasse,
caracterizando, com isso, um campo magnético variável e
possibilitando, assim, a indução eletromagnética. (Mas que, obviamente, não pode ser verificado com o emprego de um galvanômetro, como é ilustrado na figura acima, pois eles ainda não existiam nos anos de 1830).
Chavear a CC, porém por emprego de um comutador eletromecânico, produzindo impulsos elétricos periódicos, também foi o princípio empregado por Sturgeon quando, pela primeira vez, ele demonstrou o Motor Elétrico CC incorporando um comutador, em 1832, mesmo ano em que o primeiro dínamo era construído pelo francês Hippolyte Pixii.
Chavear a CC, porém por emprego de um comutador eletromecânico, produzindo impulsos elétricos periódicos, também foi o princípio empregado por Sturgeon quando, pela primeira vez, ele demonstrou o Motor Elétrico CC incorporando um comutador, em 1832, mesmo ano em que o primeiro dínamo era construído pelo francês Hippolyte Pixii.
Dínamo de Hippolyte Pixii |
Faraday havia explicado a
indução eletromagnética através de um conceito que chamou de
Linhas de Força. No entanto, os cientistas da época amplamente
rejeitaram suas idéias teóricas, principalmente porque elas não
foram formuladas matematicamente (assim como, ainda hoje, não existem modelos matemáticos específicos para dar suporte aos motores puramente magnéticos mas, o fato é que eles, apesar dos pesares, funcionam).
A lei de Lenz, formulada por Heinrich Lenz entre 1834 e 1835, se tornou uma forma comum de compreender como os circuitos eletromagnéticos obedecem a terceira lei de Newton e também que eletromagnetismo se manifesta sob a lei da conservação da energia. Ela descreveu, ainda, o "fluxo através do circuito", e deu a direção da FEM (força eletromotriz) induzida e da corrente resultante da indução eletromagnética. A lei de Lenz afirma que a corrente induzida no circuito, devido a uma mudança ou um movimento de um campo magnético, é orientada de maneira a opor-se à variação no fluxo, ou a exercer uma força mecânica oposta ao movimento.
A lei de Lenz, formulada por Heinrich Lenz entre 1834 e 1835, se tornou uma forma comum de compreender como os circuitos eletromagnéticos obedecem a terceira lei de Newton e também que eletromagnetismo se manifesta sob a lei da conservação da energia. Ela descreveu, ainda, o "fluxo através do circuito", e deu a direção da FEM (força eletromotriz) induzida e da corrente resultante da indução eletromagnética. A lei de Lenz afirma que a corrente induzida no circuito, devido a uma mudança ou um movimento de um campo magnético, é orientada de maneira a opor-se à variação no fluxo, ou a exercer uma força mecânica oposta ao movimento.
Algo que é comum a todos os elementos armazenadores e energia conhecidos, assim como, em elétrica, tanto os capacitores, quanto os indutores (bobinas) o são3, é que para que este elemento adquira (ou perca) uma certa quantidade de energia, isto é um processo que demanda, sempre, um determinado tempo. A energia pode entrar ou sair de um sistema (passando de um sistema para outro, desde que eles possam interagir no espaço), mas nunca instantaneamente.
Na figura anterior, em a) verificamos que quando o ímã é rapidamente empurrado para perto da bobina, a força do campo magnético que é percebido pela bobina aumenta (aumentou, por que se tornou mais próximo e repentinamente, por que movemos o imã bem rapidamente). Assim, a corrente induzida na bobina surge, também repentinamente, na medida necessária para criar um outro campo, no sentido oposto ao do incremento do campo provocado pela aproximação do ímã, para opor-se àquele aumento. Jé, em b) é um caso inverso ao anterior, em que o imã é rapidamente empurrado para longe da bobina, com o afastamento dele provocando diminuição (decremento) do campo, por isso a corrente induzida é de sentido contrario à do caso a). Este é um aspecto da lei da indução de Lenz, a reação na bobina sempre se opõe a qualquer alteração brusca no fluxo.
Isso ajudou a inibir o poder de rejeição inoperante dos céticos acadêmicos para com o trabalho de Faraday e para com o eletromagnetismo, em geral. No entanto, foi somente bem mais
tarde, em 1861, que coube a James Clerk Maxwell, usado as ideias de
Faraday como base, formular a sua teoria eletromagnética quantitativa, e a matematizar o que passou a ser denominada Lei da Indução de
Faraday, devidamente generalizada com a equação de Maxwell–Faraday.
As quatro equações de Maxwell (incluindo a equação de
Maxwell-Faraday), juntamente com a lei de Lorentz (a forma moderna da
fórmula para a força eletromagnética, que inclui as contribuições
para o total da força dos campos, tanto o elétrico quanto magnético, de 1892, constituem um fundamento suficiente para derivar, praticamente tudo, em
eletromagnetismo clássico.
O sistema de energia em
CA usado ainda hoje em dia, desenvolveu-se rapidamente, a partir de
1881, com a demonstração prática do Transformador Elétrico, um
dispositivo que foi essencial para viabilizar a transmissão e a
distribuição de energia elétrica de modo massivo, na época. A|o
contrário da CC, com os transformadores, a tensão CA poderia ser
intensificada a valores bastante elevados, e então transmitida por
fios mais finos e mais baratos, mesmo para longas distâncias, e no final, ter a tensão reduzida
novamente, para distribuição aos usuários no destino.
O desenvolvimento do sistema CA incluiu contribuições diversas, como as de Pavel Yablochkov, da Rússia, de Lucien Gaulard da França, de John Dixon Gibbs e de Sebastian Ziani de Ferranti, da Inglaterra, de William Stanley, Jr e George Westinghouse, dos EUA, de Carl Wilhelm Siemens, da Alemanha, além de Nikola Tesla.
O desenvolvimento do sistema CA incluiu contribuições diversas, como as de Pavel Yablochkov, da Rússia, de Lucien Gaulard da França, de John Dixon Gibbs e de Sebastian Ziani de Ferranti, da Inglaterra, de William Stanley, Jr e George Westinghouse, dos EUA, de Carl Wilhelm Siemens, da Alemanha, além de Nikola Tesla.
Por uma série de
descobertas através de adaptações, o dínamo se tornou a fonte de
muitas invenções posteriores, incluindo o alternador CA, o motor
síncrono CA e o conversor rotativo. Os motores de indução CA foram
inventados de forma independente por Galileo Ferraris e por Nikola
Tesla, com um modelo de motor funcional tendo sido demonstrado pelo
primeiro 1885 e pelo último em 1887. George Westinghouse, que estava buscando desenvolver um sistema de energia CA completo naquele momento,
licenciou as patentes de Tesla em 1888 e comprou a opção de
patentes nos EUA do conceito de motor de indução de Ferraris.
Não obstante o fato de
que, em 1887, já houvessem 121 centrais Edison nos EUA fornecendo
eletricidade em CC para clientes industriais, residenciais e de
iluminação publica, naquele mesmo ano, o London Electric Supply
Corporation (Lesco) contratou Sebastian Ziani de Ferranti, que já
havia se tornado em um especialista em alternadores, para o projeto
de sua usina em Deptford. Ele projetou o edifício, a planta de
geração e sistema de distribuição. Em sua conclusão, em 1891,
ela foi a primeira estação de energia verdadeiramente fornecendo
energia CA de alta tensão que era depois reduzida para uso do
consumidor em cada rua.
Os Sistemas em CA
demonstraram superar as limitações do sistema em CC, proposto e
usado por Thomas Edison, distribuindo energia elétrica de forma
eficiente em longas distâncias apesar da forte campanha publicitária
de Edison tentando desacreditar a CA como muito perigosa durante a
chamada “Guerra das Correntes”, nos EUA. Além do mais, houve uma
forte promoção do desenvolvimento do sistema CA trifásico, com
russo Mikhail Dolivo-Dobrovolsky desenvolvendo o motor de indução
de rotor em gaiola (sem enrolamentos no rotor), em 1889, e o transformador de três membros (transformador trifásico) em 1890.
A primeira usina
comercial nos Estados Unidos, utilizando CA trifásica de foi a Usina
Hidrelétrica Mill Creek Nº 1 de perto Redlands, Califórnia, em
1893, projetada por Almirian Decker. O projeto de Decker incorporou
transmissão em 10 quilovolts trifásica e estabeleceu padrões para
o sistema completo de geração, transmissão e de motores usados
ainda hoje.
A Teoria de Circuitos em
CA continuou a desenvolver na última parte do século XIX e início
do século XX. Outros contribuidores notáveis para a base teórica
dos cálculos CA incluem Charles Steinmetz, Oliver Heaviside, e
muitos outros, enquanto que a CA passou a ser a forma padrão em que a
energia elétrica que é entregue às empresas e às residências. A forma de
onda usual de um circuito de alimentação CA é uma onda de forma senoidal
(sinusoidal, forma de onda relativa a da função trigonométrica
seno). Em determinadas aplicações, diferentes formas de onda são
utilizadas, tais como ondas triangulares ou quadradas.
Numa abordagem convencional, para máquinas de fluxo radial, o rotor costuma ser montado inserido no interior do estator, que tem uma forma semelhante a um cilindro aberto. Por sua vez, as máquinas de fluxo axial podem ser concebidas com o rotor estando fora do estator, com o rotor e o estator, ambos, em forma de discos, dispostos lado a lado.
A configuração do motor em avesso (b) é adequada para aplicações em que o rotor possa ser integrado diretamente ou embutido dentro do sistema mecânico que ele irá tracionar, tais como, por exemplo, motores de acionamento direto para as rodas de veículos elétricos e motores de tração de rolos de condução de correias transportadoras. Já a configuração (c) a primeira vista não parece ser muito prática, uma vez que a estrutura mecânica é mais complicada e a remoção de calor do estator interno irá requerer uma circulação de ar bastante eficiente dentro da máquina. No entanto, tal estrutura melhora essencialmente a densidade de torque (torque x volume) da máquina e pode ser útil em algumas aplicações em que o volume total da máquina seja algo limitado.
Classificações das Máquinas Elétricas:
A classificação de
todas as máquinas elétricas existentes atualmente é algo deveras complicado de se definir em sua totalidade, devido as múltiplas
possibilidades de combinação de princípios físicos ao se construir
uma máquina elétrica. Todavia, descartando os transformadores
(máquinas que não têm partes móveis), qualquer tipo de máquina
elétrica móvel, é basicamente composta de duas partes principais:
o estator (parte fixa da máquina) e o rotor
(parte móvel da máquina). Em geral, as máquinas elétricas
apresentam, também, uma carcaça protetiva (que envolve a
máquina).
Já, de acordo com a direção
do fluxo de campo magnético e, consequentemente
relacionado com a forma da geometria (formas e espaço, topologia) da
máquina elétrica, elas podem ser classificadas, também, em
máquinas de fluxo radial, nas quais o fluxo magnético flui
radialmente através da máquina a partir do eixo do rotor), ou em
máquinas de fluxo axial, em que o fluxo magnético flui na
mesma direção do eixo através da máquina a partir do eixo do
rotor.
Alguns casos especiais de
máquinas podem combinar a componente de fluxo radial com a
componente de fluxo axial, numa topologia rotor-estator em formas de
discos dispostos lado a lado, no que elas são classificadas com
máquinas de fluxo transversal. Um outro caso, bem específico,
como o da máquina de fluxo radial de rotor cônico, também usa a
componente axial obtida pela conicidade do rotor, mas apenas para
fazê-lo deslizar axialmente, a fim de acionar um sistema de frenagem
de segurança (usado em sistemas móveis industriais pesados, como as
pontes rolantes).
Geralmente, todas as
estruturas de máquinas elétricas podem, também, ser “viradas do
avesso”. Assim, o rotor e o estator podem trocar de lugar. No caso
de máquinas de fluxo radial, elas recebem a denominação “máquina
de rotor externo”. Tanto para o caso de máquinas de fluxo radial
quanto para o de máquinas de fluxo axial, topologias constituindo
uma configuração com um único estator bobinado ensanduichado
entre dois rotores de imãs permanentes podem ser empregadas.
A configuração do motor em avesso (b) é adequada para aplicações em que o rotor possa ser integrado diretamente ou embutido dentro do sistema mecânico que ele irá tracionar, tais como, por exemplo, motores de acionamento direto para as rodas de veículos elétricos e motores de tração de rolos de condução de correias transportadoras. Já a configuração (c) a primeira vista não parece ser muito prática, uma vez que a estrutura mecânica é mais complicada e a remoção de calor do estator interno irá requerer uma circulação de ar bastante eficiente dentro da máquina. No entanto, tal estrutura melhora essencialmente a densidade de torque (torque x volume) da máquina e pode ser útil em algumas aplicações em que o volume total da máquina seja algo limitado.
Máquinas elétricas
podem ser projetadas com ou sem ferro para melhorar a caminho do
campo magnético e com e sem ímãs permanentes para
produzir os campos magnéticos necessários e, ainda, dotadas com
número de polos magnéticos diferentes, e é isso, entre outras
coisas, o que as fazem pertencem a diferentes classes de máquinas
elétricas.
Além do mais, máquinas
elétricas podem ser classificadas como síncronas, o que
significa que o rotor gira com a mesma velocidade com que gira o
campo magnético criado pelo enrolamento (bobinas) do estator, ou
elas podem ser assíncronas, o que significa que há uma
pequena diferença entre a velocidade de movimento de campo girante
do estator e o movimento do rotor.
O tipo de máquina mais
populares em todo o mundo, as máquinas de indução CA,
são geralmente assíncronas. Todavia, elas podem se tornar
síncronas, se houver emprego de supercondutores nos enrolamentos do
rotor.
Hoje em dia, o interesse
em máquinas elétricas CA síncronas com supercondutores parece
aumentar porque, neste caso, apenas o enrolamento do eletroímã CC
que produz o campo magnético do rotor (parte rotativa da máquina)
utiliza supercondutores. Os enrolamentos multifásicos CA
estabelecidos no estator (parte fixa da máquina) permanecem na mesma
estrutura convencional, utilizando-se de condutores de cobre e, não
exigindo nenhum suporte prático por supercondutores para conduzir a
corrente.
O parâmetro de maior
importância no interesse pela “máquina supercondutora” é a
geração de um campo magnético muito elevado, que não seria
possível em uma máquina convencional. Isto leva a uma redução
substancial do volume da máquina, o que significa um grande aumento
na densidade de energia.
Muitas vezes, em muitas
aplicações de máquinas elétricas diversas, os condutores de
estator precisam ser, de alguma forma, refrigerados para reduzir (mas
não eliminar), as suas perdas resistivas. No entanto, na máquina
supercondutora, uma vez que os supercondutores apresentam a
característica de resistência zero apenas sob uma determinada
temperatura de transição supercondutora muito baixa, a qual
costuma ser de centenas de graus abaixo do que é a temperatura
ambiente média no planeta Terra, em geral, o emprego de criogenia é
necessário, o que, por enquanto, inviabiliza o emprego comercial
dessas máquinas.
Já, as máquinas
elétricas de ímãs permanentes e máquinas de relutância são,
sempre, máquinas síncronas. Na série deste artigo, vamos tratar,
mais detalhadamente, de máquinas elétricas síncronas de imãs
permanentes e suas classificações.
Um motor elétrico
síncrono é uma máquina elétrica de CA (motor CA síncrono),
no qual, em estado estacionário, a rotação do eixo ocorre em
velocidade síncrona, ou seja, perfeitamente sincronizada
com a frequência da corrente de alimentação. Isso pressupõem
que esse tipo de máquina depende de excitação CA (ou de uma CC
periodicamente pulsante, para que haja frequência) para que haja
para rotação. Na máquina síncrona, o período de rotação é
exatamente igual a um múltiplo inteiro do período relativo ao ciclo
da CA de alimentação que produz o campo girante no estator da
máquina.
O rotor de uma máquina
síncrona é, em geral, não-excitado, o que significa que nenhum
tipo corrente elétrica precisa ser fornecida ao rotor, para a
excitação. Assim, os rotores podem ser fabricados utilizando três
diferentes tecnologias de projetos magnéticos:
- de ímãs permanentes;
- de relutância (em geral tendo um rotor constituído por uma peça sólida de aço com polos em projeções de dentes salientes, no mesmo número que os polos do estator);
- de histerese (em geral tendo um rotor cilíndrico liso sólido feito com uma liga dura de aço cobalto de alta coercividade magnética).
Máquinas
síncronas (sem escovas) com ímã permanente e motores de
relutância comutada, ambos dependem de sistemas de acionamento
eletrônico que produzam campos magnéticos girantes em rampa de
aceleração (com frequência variável) para a partida. Apesar de
motores de relutância serem mais barato, o motor com rotor
constituído por um eixo de aço com ímãs permanentes ou, se o
motor for pequeno, um anel magnético fixado em torno da
circunferência do eixo, é o que transmite maior torque por volume
de máquina. Dai, a predominância de máquinas síncronas com uso de
imãs permanentes.
Já, o estator da máquina
síncrona contém eletroímãs, realizados pela energização de
enrolamentos que são alojados na circunferência do estator, que
criam um campo magnético girante, qual gira em sincronia com a
frequência da corrente da linha de alimentação. Por sua vez, o
rotor girará no passo com este campo, com exatamente a mesma taxa.
O estator possui um grupo
de lâminas de aço ranhuradas (0,1 a 0,6 mm de espessura) que são
fundidos para formar uma pilha uniforme sólida, a qual cria uma
série de dentes. As bobinas de cobre enroladas são então inseridas
em cada uma das ranhuras. Em conjunto, a pilha de laminados e as
bobinas de cobre enroladas formam o conjunto do estator.
O caminho de retorno que
completa o circuito magnético é composto pelo material laminado
externo dos enrolamentos de cobre no estator, e a carcaça do motor.
Os imãs permanentes no rotor da máquina fornecem um campo magnético
do rotor constante, e torna possível um rotor com um elevado torque
por volume, altamente eficiente e de baixo momento de inércia.
Embora os motores mais
ortodoxos e eficientes são os de três fases, máquinas síncronas de
duas fases são, também, muito usadas por causa da simplicidade da
sua construção simples e do seu circuito de acionamento.
Do ponto de vista da estrutura da máquina elétrica, os denominados Motores CC Sem Escovas (Brushless DC Motor ou BLDC Motor) são muito semelhantes aos Motores CA Síncronos (Synchronous Motor), do tipo que é conhecido como Motor de Ímãs Permanentes (Permanent-Magnet Synchronous Motor - PMSM):
Os enrolamentos do estator são semelhantes às de um motor de CA polifásico qualquer, enquanto o rotor é constituído por um ou mais imãs permanentes. Só que no Motor CC Sem Escovas temos uma arquitetura com o número de polos do estator diferente do número de polos do rotor, enquanto que no Motor CA Trifásico Síncrono, o número de polos magnéticos do rotor é igual ao número de grupos de bobinas por fase do estator.
Na verdade eu me atrevo a dizer que o termo "Motor CC Sem Escovas" nasceu de um artifício, como uma forma de incentivo de marketing para induzir as pessoas a pensarem no motor com a sua unidade de acionamento associada, como uma boa opção de substituto para um motor CC com escovas e sua unidade de acionamento.
No início e, até meados
dos anos '80, os “verdadeiros Motores CA Síncronos” eram
concebidos como sendo máquinas de velocidade única, sendo esta
velocidade associada a um submúltiplo da frequência da rede
elétrica. A partir dai, os primeiros desenvolvimentos dos
Conversores de Frequência, conhecidos, também,
como Inversores (em inglês, Power Inverters) eram
dispositivos de acionamento de máquinas que visavam, num primeiro
momento, controlar a velocidade, apenas, das Máquinas CA
Assíncronas (máquinas com arquitetura do motor de
indução CA trifásico, com um rotor de gaiola de esquilo simples).
A Máquinas
CA Assíncronas
era, e ainda são, de longe, as máquinas elétricas rotativas mais
desejáveis, como primeira escolha e, empregadas em maior número na
totalidade das aplicações motorizadas, em todas as áreas, por elas serem, dentre todas, as
máquinas mais baratas (nenhum imã permanente é necessário) e terem baixos custos
de manutenção (nenhum comutador mecânico).
Acontece que, antes do
advento dos conversores de frequência (os inversores) se tornarem algo mais acessível, as aplicações
motorizadas em velocidade variável controlada já eram
fortemente dominadas, desde o início anos '60 pelo emprego de Máquinas
de CC Com Escovas, acionadas por meio
de Retificação Controlada, empregando os dispositivos
semicondutores de potência denominados Tiristores, que são diodos
retificadores controlados feitos a base de silício, popularizados
pela sigla SCR (Silicon-Controlled Rectifier), criado
pela GE em 1957), enquanto que, os conversores de frequência primitivos podiam ser elaborados para operar apenas de maneira não muito
satisfatória, e a um custo bastante elevado, usando esses mesmos
dispositivos (que não eram dispositivos de eletrônica de potência muito adequados a tal).
Módulo IGBT (integra IGBTs e diodos de roda livre) com uma corrente nominal de 1200 A e uma tensão máxima de 3300 V |
A história dos dos
conversores de frequência (os inversores) é longa, e passou pela época da aplicação dos inversores eletromecânicos, e depois pela época dos inversores baseados em retificação controlada (inversores tiristorizados), no entanto, eles
tiveram grande impulso a partir do final dos anos '80 e durante todos
os anos '90, com o advento de um novo dispositivo semicondutor de
potência denominado IGBT (Insulated-Gate Bipolar
Transistor), que apesar de patenteado no Japão desde 1968, só
começou a ser comercializado com êxito pela Toshiba a partir de
1985), que se tornaram, rapidamente, baratos e populares devido a sua
fácil operação e confiabilidade, fazendo migrar o escopo das
aplicações de acionamentos motorizados em velocidade controlada
para as Máquinas CA Assíncronas.
Assim, enquanto os velhos
motores CC com escovas pareciam fadados à extinção, apesar de
alguma simplificação do seu controle (mas com aumento de custo da máquina) implementada pelo emprego de
imãs permanentes nos seus estatores, o que passou a garantir fluxo
de campo constante, os novos Motores CC sem escovas (brushless)
foram, então, desenvolvidos a partir da mesma disponibilidade de
semicondutores de potência de estado sólido que tornou possível o
sucesso dos conversores de frequência (os módulos IGBT) e, como dito anteriormente,
como um artifício, como uma forma de incentivo de marketing para
induzir as pessoas a pensarem neste “novo motor” como substituto
para um motor CC com escovas e sua unidade de acionamento, tentando
quebrar a hegemonia do emprego das máquinas de indução CA.
Todavia, os motores CC
sem escovas que dai surgiram, de fato, nada tinham em haver com os
tradicionais motores CC com escovas convencionais mas, sim, derivaram
da topologia da máquina CA síncrona. Assim, a palavra-chave para
distinguir cada caso passou a ser, então, a ser a Técnica de
Comutação que é empregada para o acionamento da
máquina.
A comutação é o
processo de chaveamento da corrente nos enrolamentos,
a fim de gerar o movimento e o torque. Em motores com escovas,
a comutação é fácil de entender, uma vez que as escovas estão em
contato com um comutador e ele próprio comuta a corrente de armadura
(corrente nos enrolamentos do rotor) a medida que o motor se move.
Já, na tecnologia Sem Escovas, não há peças móveis de contato
elétrico, o antigo conjunto escova comutador, que implicava em um
elevado número de paradas para manutenção e, portanto, a
tecnologia sem escovas é mais confiável.
No entanto, o sistema
eletrônico obrigatoriamente necessário para controlar a corrente no
motor é um pouco mais complexo.
Além do mais,
descaracterizando por completo a topologia da velha máquina CC com
escovas, não é mais a corrente nos enrolamentos presentes no rotor
(armadura) que deve ser comutada mas, tal qual se controla uma
máquina CA síncrona (ou mesmo tal qual se controla uma máquina CA
assíncrona), é a corrente dos enrolamentos do estator, que deve ser
comutada, de modo que, para todos os casos, os circuitos de comutação
passam a ser inversores estáticos que usam dispositivos de comutação
dispostos em uma ponte H (tal qual os empregados nos conversores de
frequência de variável).
Em outras palavras, o que
nós temos, em última instância, é uma máquina CA síncrona, a
qual pode ser acionada por diferentes técnicas e estratégias de
comutação, as quais implicam, tanto em diferenças de custos,
quanto em diferenças de performance, e também de classificação,
de modo que, é a necessidade de performance específica da aplicação
que o motor se destina que deve determinar qual delas devemos usar.
De modo geral, podemos
dizer que existem três tipos diferentes de técnicas de comutação
atualmente disponíveis no mercado: a trapezoidal, a
modificada de seis etapas, e a sinusoidal.
Os primeiros motores vendidos como sendo “motores CC sem escovas
(brushless)” tendiam a ser "trapezoidally wound", ou
seja, ter perfis trapezoidais de FCEM (força contra-eletromotriz) 4 para que pudessem ser razoavelmente bem comutado através de técnicas
mais simples de comutação, a partir do barramento de CC.
Posteriormente, a maioria
destes motores começam a ser "sinusoidally wound" e
idealmente controlados com um algoritmo de comutação sinusoidal
mais sofisticado. Não obstante tais denominações diferentes, é
notável que ambos estes motores dependem de uma comutação que
provoque sua excitação para rodar e desenvolver torque que deve ser
classificada como sendo, tipicamente, de CA.
Acionamento do Motor “CC” Sem Escovas:
Em aplicações
motorizadas em velocidade variável controlada, porque não há
nenhuma referência fixa, a primeira coisa que um controle deve
determinar é qual e quando determinada fase deve ser energizada. Há
um certo número de maneiras diferentes com que isto pode ser
alcançado, fazendo com que o motor
incorpore
algum meio para produzir os
sinais que
controlarão
os comutadores eletrônicos mas, de longe, o mais popular é o
uso de dispositivos de efeito de Hall grosseiros
como sensores de posição. Existem três desses dispositivos, um
para cada fase, e eles fornecem os sinais que representam os campos
magnéticos gerados pelas pistas dos ímãs. Ao analisar esses
campos, é possível determinar em qual parte da pista dos ímãs o
rotor está posicionado e, portanto, energizar a sequência de fase
correta.
Esta configuração de
sensores de realimentação para
detectar a posição do rotor (ou dos
polos magnéticos) atende
tanto aos requisitos da comutação trapezoidal, quanto aos
requisitos da comutação modificada de seis etapas, como
mostrado na figura:
Como os sensores de
efeito Hall são montados internamente, integrados à carcaça da
máquina elétrica e, como esta configuração não atende,
plenamente, aos requisitos da comutação sinusoidal, dai resulta o
fato destas máquinas serem, comumente, classificadas sob a
denominação Motores
CC Sem
Escovas
e,
portanto, tidos como
diferentes dos Motores
CA Síncronos
(motores CA de ímãs
permanentes), os
quais requerem uma configuração
de sensores de
realimentação diferenciada.
A comutação trapezoidal
é a forma mais simples de comutação e requer que dispositivos de
efeito Hall digitais estejam montados alinhados 30º eletricamente a
partir do ponto de cruzamento de zero de cada fase. Em cada ponto em
que uma transição do sinal Hall acontece, a sequência da corrente
de fase é trocada, assim, a comutação do motor ocorre.
Considerando o conjunto dos sensores, do controle e do circuito de
eletrônica de potência, esta é a forma mais barata de comutação.
A comutação modificada
de seis etapas é muito semelhante à comutação trapezoidal. Uma
diferença é que os dispositivos de efeito Hall digitais estão
alinhados com o ponto de cruzamento zero de cada fase de acordo com o
diagrama a seguir mostrando a sequência Hall de um motor sem
escovas.
Mais uma vez, em cada
ponto em que a transição do sinal de Hall são visto, a corrente de
fase é comutada. No entanto, com este método, mais dois sensores de
corrente costumam ser utilizados, no que resulta em proporcionar uma
sequência de comutação que está mais próxima da corrente de fase
sinusoidal ideal. Este método é um pouco mais caro do que a
comutação trapezoidal devido à necessidade dos dois sensores de
corrente extra. De qualquer forma, ambos os métodos baseados em Hall
causarão forças de perturbação, resultando em maior temperatura
de funcionamento e num movimento que não é suave.
A forma de onda
representativa da comutação da corrente de fase do motor, para cada
caso, se parece com as formas de onda do diagrama mostrado a seguir:
O meio ideal para
conduzir qualquer motor sem escovas sinusoidally wound é a técnica
de comutação sinusoidal propriamente dita. Existem duas formas com
que isto é normalmente conseguido. Dispositivos de efeito de Hall
analógicos podem gerar um sinal sinusoidal a medida que o motor
passa sobre os pólos magnéticos das pistas de ímãs. Os sinais,
que são adequados para a comutação do motor, são, então,
combinados com o sinal de realimentação de corrente para comutar
corretamente o motor. Este é o método de menor custo dentre os dois
métodos, no entanto, ruído pode ser captado nos dispositivos Hall,
afetando comutação.
Outro método mais
popular de comutação sinusoidal é pelo uso de um encoder
incremental, combinado, juntamente, com dispositivos hall digitais.
Quando uma alteração do estado é detectada no sinal do dispositivo
Hall digital, os sinais do encoder incremental podem, então, ser
utilizados para determinar digitalmente, em que posição do ciclo de
comutação do motor está. A comutação é feita através da
geração de um sinal de comando sin (θ) Fase A e um outro
sinal de comando sin (θ +120°) Fase B e logicamente
multiplicando estes pelo sinal de realimentação de corrente.
Este método de comutação
é o que dá os melhores resultados, devido a ser o mesmo processador
utilizado para controlar a corrente, a velocidade e posição, e
resulta em tempos de acestamento mais rápidos e laços de servo
controle mais robustos. Além disso, os ruídos nos dispositivos Hall
digitais são muito mais fáceis de filtrar e remover, resultando num
sistema mais fiável. Quando a comutação sinusoidal é usada, tanto
com motores rotativos quanto com motores lineares, o movimento é
suave e o motor é acionado de forma mais eficiente, causando menor
aquecimento.
Assim, podemos concluir
que, mesmo que estas máquinas sejam vendidas sob a denominação
"Motor CC Sem Escovas” ele são máquinas de imãs permanentes
que também são vendidas acompanhadas por uma unidade de acionamento
controlado que produz forma de onda CA para, efetivamente, alimentar
a máquina, seja a partir de uma fonte DC, ou vendidas como um "motor
síncrono CA", que provavelmente será usada alimentando-se
diretamente de uma rede elétrica CA, mas também acompanhada com uma
unidade de acionamento controlado interfaceando entre a rede elétrica
e a máquina.
Dentro de um critério
meramente comercial, costuma-se tratar como “Motor CA Síncrono de
Imãs Permanentes”, apenas quando a mesma máquina, dispensa o
emprego dos dispositivos de efeito Hall incorporados a ela e, ao
invés disso, passa a incorporar um Resolver. Um resolver é uma
mini máquina elétrica do tipo transformador elétrico rotativo, sem
escovas, que é usado como sensor para medir a posição de rotação
da motor.
Outros
projetos utilizam medir o FCEM nas bobinas não
energizadas para inferir a posição do rotor, também eliminando a
necessidade de separar sensores de efeito de Hall, e portanto são
muitas vezes chamados controladores sem sensores.
No entanto, um número
muito grande de engenheiros têm, cada vez mais, concordado que
“Motor CC Sem Escovas” é apenas uma designação comercial para
a máquina que, mais apropriadamente, deve ser chamada de “Motor CA
Síncrono”.
Bem, por ora vamos ficando por aqui e, até a postagem postagem, que será a da parte 2, quando já estaremos COMEMORANDO AS 100.000 VISITAS A ESTE BLOG. Obrigado!!!
Notas:
- Note que, se o aproveitamento da energia gerada no modo frenagem, por algum motivo, não for possível, de qualquer outra forma que seja, aquela energia que está sendo gerada precisará ser "queimada", Isso pode ser feito com a corrente proveniente da máquina elétrica sendo conduzida através de um resistor de potência, onde a energia é dissipada para o ambiente em forma de calor (chamamos a isso de frenagem reostática). Sem isso (frenagem reostática), ou aquilo (aproveitamento da energia para recarga da bateria), a efetiva frenagem elétrica (frenagem motora) de um VE não seria possível e ele precisaria ter um outro tipo de sistema de freio. Assim como o reaproveitamento da energia é feito de modo controlado, com o chaveamento dos semicondutores de potência da ponte do conversor, também a frenagem reostática deve ser controlada, para que a frenagem, em si, seja controlada.
- Também haverá indução eletromagnética se o campo fixo no espaço for do tipo variável, porém, o resultado da interação entre a variação do campo e a variação de posição do movimento da espira, que é o que determina a forma de onda da corrente que é induzida, resultará numa forma de onda que pode ser bastante complicada.
- Os capacitores armazenam energia elétrica em um campo elétrico, e a disponibilidade de entrega da energia previamente armazenada é com eles operando como fonte de tensão, enquanto que os indutores armazenam energia elétrica em um campo magnético, e a disponibilidade de entrega da energia previamente armazenada é com eles operando como fonte de corrente.
- FCEM - é um acrônimo relativo ao termo "Força Contra Eletromotriz" que é um fenômeno relativo a Física da eletricidade (ou dos fenômenos eletromagnéticos) que significa uma força eletromagnética (uma tensão elétrica) que surge sobre um elemento de circuito elétrico denominado indutor (ou elemento indutivo, cuja principal característica é opor-se a qualquer variação brusca na corrente elétrica que flui por ele) que esteja ligado a uma fonte de energia elétrica, formando um circuito fechado, de tal modo que esta fonte possa fornecer uma alimentação comutada (com tensão elétrica chaveada ou pulsante). Quando a fonte de alimentação é comutada para o estado de ligada, a tensão elétrica que ela oferece ao indutor surge abruptamente, para o seu valor máximo, porém, a corrente elétricas que ela fornece ao indutor não pode crescer de intensidade abruptamente, de tal modo que esta corrente irá crescendo de intensidade ao longo de um certo tempo, enquanto o indutor vai se carregando com energia elétrica, que é acumulada e armazenada em seu campo eletromagnético. Decorrido o tempo estipulado, o indutor estará plenamente carregado de energia e o corrente atinge, em fim, o seu valor máximo de intensidade. Até aqui, ainda não ocorreu a FCEM que, somente surgirá a partir do exato momento em que a fonte de alimentação for comutada para o seu outro estado, ou seja, quando a tensão que ela oferece ao indutor for desligada (o que equivale a tensão dela cair abruptamente). Assim ocorre a FCEM que corresponde a uma nova tensão que surge abruptamente sobre o indutor, em razão da energia que ele ainda tem armazenada. Esta tensão é a FCEM, e ela tem a mesma intensidade, porém polaridade contrária, com relação á tensão da fonte que, antes, alimentava o indutor. Por ter polaridade contrária, dai vem o termo Força Contra Eletromotriz. Havendo um caminho para circulação de corrente, a corrente pelo indutor fui no mesmo sentido em que fluía enquanto a fonte o alimentava, e com a mesma intensidade máxima em que ela se encontrava. A diferença é que, agora, é o próprio indutor que está operando como fonte de alimentação, fornecendo corrente, o que o faz ir se descarregando aos poucos. Assim a corrente irá decrescendo (aos poucos, pois o indutor se opõem a qualquer variação brisca da corrente), até que, com o indutor já plenamente descarregado, a corrente, em fim, cessa.
Ola, li seu post e estou estudando em um trabalho de conclusão de curso, uma forma de "criar" uma moto continuo( motor que gera energia atraves de imãs) sem que seja necessario dar a partida com energia, gostaria de saber se você ja leu ou tem conhecimento para tentar me dar uma breve explicação sobre o mesmo. Muito Obrigado
ResponderExcluirEste assunto está presente, sim, também aqui neste blog. E é um dos assuntos mais congestionados (com muita gente correndo atrás). Mas, como para mim, ele faz parte de apenas uma parcela do total dos meus interesses, eu tenho tomado o o cuidado de não me envolver muito nele.
ExcluirNeste linque que estou escrevendo abaixo, você pode se direcionar para a postagem principal deste assunto:
http://automoveiseletricos.blogspot.com.br/2013/06/os-imas-permanentes-e-os-motores.html
Abraço, saudações ... e divirta-se!
Ora, Everton Ika, aqui mesmo, neste blog, tem postagens sobre esse assunto, sob o título: Os Ímãs Permanentes e os Motores Puramente Magnéticos (Parte 2/2)
ResponderExcluirhttp://automoveiseletricos.blogspot.com.br/2013/06/os-imas-permanentes-e-os-motores.html
Queria saber sobre caminho do fluxo mutuo (num total de 6 polos )
ResponderExcluirCreio que eu preciso de (ainda) mais detalhes, Fabio Oliveira, para poder avaliar melhor o seu questionamento e responder sem muitas delongas, amigo!
ExcluirOlá, gostaria de utilizar uma de suas figuras em um trabalho, como posso fazer para referenciar o autor...a fonte é sua mesmo? Obrigado!
ResponderExcluirFilipe, nesta postagem tem algumas figuras que são de minha autoria, e outras que foram trazidas de outras páginas de material licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Não Comercial - Compartilha Igual 3.0 Não Adaptada. Se a finalidade não for comercial, você não terá problemas, não sendo, obrigatório, referenciar o autor.
ExcluirBoa noite, André! Tenho algumas dúvidas com relação aos motores com imãs permanentes, primeiro, o eixo e os rolamentos não ficam imantados já que estão próximos aos imãs? Segundo, como é retirado esse rotor do motor em uma eventual manutenção? Por ser um imã, ele não vai ser atraído pelo ferro do estator?
ResponderExcluirO fluxo radial não consegue magnetizar o eixo, mas, o fluxo axial, sim, pode magnetizar o eixo, formando polos nas extremidades opostas dele. Já, quanto a desmontagem separando estator e rotor, de fato, é uma operação que requer cuidado, pois, sim, pode ocorrer colisão por causa da atração e pode resultar em danos físico a máquina. Eu já tenho desmontado manualmente máquinas de imãs permanentes não muito grandes (do tamanho para tração de motocicletas pequenas e médias) e tomo muito cuidado para não deixar a atração magnética causar esmagamento dos meus dedos (mas sempre sinto dor porque frequentemente esmaga alguma de minhas unha).
ExcluirO fluxo radial não consegue magnetizar o eixo, mas, o fluxo axial, sim, pode magnetizar o eixo, formando polos nas extremidades opostas dele. Já, quanto a desmontagem separando estator e rotor, de fato, é uma operação que requer cuidado, pois, sim, pode ocorrer colisão por causa da atração e pode resultar em danos físico a máquina. Eu já tenho desmontado manualmente máquinas de imãs permanentes não muito grandes (do tamanho para tração de motocicletas pequenas e médias) e tomo muito cuidado para não deixar a atração magnética causar esmagamento dos meus dedos (mas sempre sinto dor porque frequentemente esmaga minha unha).
ResponderExcluir