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quinta-feira, 7 de março de 2013

A Energia a Preço Justo e o Impacto do Carregamento Doméstico de VEs


Há poucos dias atrás, aqui neste blog, foi apresentada uma série de postagens titulada "Como Comparar Custos de Consumo entre Veículos a Combustão e Veículos Elétricos" e, mais especificamente na Parte 2/3 desta série, nós dispendemos algum esforço em tentar decifrar os meandros envolvidos na Estrutura Tarifária das nossas "contas de luz".

Ali fizemos um estudo que envolveu tentar entender o Custo da Energia Elétrica para Consumidores Individuais que consomem energia elétrica a partir de Baixa Tensão classificados como Residenciais (B1). Nos atrevemos, inclusive, a tentar entender a série de Resoluções Normativas (que são de caráter geral) e Resoluções Homologatórias (que são de caráter específico para determinada Empresa Concessionária de Energia) emitidas pela ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica.

Tudo aquilo foi feito objetivando a determinação de um certo Valor de Referência de Custo de Energia Elétrica (em R$/kW.h), que nos permitisse estimar o Custo do Consumo por Unidade de Rodagem (em R$/km), a partir do conhecimento da Rodagem por Unidade de Consumo (em km/kW.h) dos Veículos Elétricos (VEs), que tem o seu equivalente na denominada Eficiência de Combustível (em km/l) dos Veículos a Combustão Interna (VCI) para, por fim, poder comparar os  Custo do Consumo por Unidade de Rodagem de ambos os tipos de Veículos Automotores.

Essa tarefa, que eu sintetizei acima em um único parágrafo, demandou um estudo cujo relato  consumiu três longas postagens daquela série. Mas eu creio que valeu a pena e que a terminamos a contento, comprovando que um VE tem um Custo do Consumo por Unidade de Rodagem quase 3 vezes menor do que o de um VCI.

Todavia, eu estou retornando às questões que envolvem aquele certo Valor de Referência de Custo de Energia Elétrica (em R$/kW.h) pois eu desejei, também, agora (na verdade, eu já o desejava desde quando escrevia aquela série de postagens anterior), fazer estimativa a respeito de "um número" que reflita o "Impacto do Carregamento Doméstico de VEs" nas nossas contas de luz, coisa que faz parte do título desta postagem.

Desejei fazer isso, não obstante o fato de que, falar em "Carregamento Doméstico de VEsimplica em falar em algo ainda fora da realidade brasileira do momento atual mas, a ideia aqui é exatamente essa: fazer uma simulação o mais realista possível, que nos sirva para traçar uma perspectiva para o futuro, ajudando a formar opiniões e a fomentar tendências, a respeito deste importante e delicado tema, desde agora.

Para chegarmos a um número que expresse o Impacto do Carregamento Doméstico de VEs, a partir do ponto em que já chegamos, é fácil: bastaria que estabelecêssemos uma certa Taxa de Rodagem Mensal (em km), que seja considerada como típica e na qual possamos nos basear para fazer o cálculo, usando também os números já obtidos nas postagens anteriores, a saber: a Rodagem por Unidade de Consumo (em km/kW.h) do Veículo Elétrico (VE) em questão, e o Valor de Referência de Custo de Energia Elétrica (em R$/kW.h) 

No entanto eu devo confessar uma coisa: a coisa de dois dias eu passei a expressar uma certa insegurança com respeito ao Valor de Referência de Custo de Energia Elétrica (em R$/kW.h) que chegamos, que foi de R$ 440,61 por cada 1 MW.h de energia consumida.

A esse número, nós chegamos, principalmente pela via de eu ter me apoiado em minha própria condição de consumidor, cujo consumo é faturado conforme Tarifas do Grupo B, no qual se enquadram as unidades consumidoras atendidas em tensão inferior a 2,3 kV (ou baixa tensão), mais especificamente a classe B1 - Classe Residencial e com um Consumo Médio Mensal em torno de 300 kW.h (creio que bastante típico).

Assim o fiz por considerar a mim mesmo como um Consumidor Padrão, acreditando ter uma condição bastante semelhante àquela na qual se enquadram um grande número de consumidores residenciais no Brasil, não obstante o fato de que, cada diferente Empresa Concessionária de Energia que atua em Distribuição de Energia, atendendo a consumidores residenciais, atuando em sua própria Área de Concessão, está sujeita a Resoluções Homologatórias especificas, regulamentadas a partir da ANEELAgência Nacional de Energia Elétrica.

A minha insegurança quanto ao número anteriormente calculado como Valor de Referência de Custo de Energia Elétrica (R$ 440,61 por cada 1 MW.h) passou a existir a partir do momento em que eu fui conhecer o novo site da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, denominado Energia a Preço Justo, no qual existe uma ferramenta que calcula desconto na conta de luz.

Na ferramenta de cálculo deste site é possível você entrar com os seus dados de Concessionária, de Nível de Tensão e de Tarifa que, a partir de um valor de Consumo (em kW.h), também informado pelo usuário, são calculados dois tipos de "valores a serem pagos", um referente ao ANTES e outro referente ao DEPOIS, de considerada a "redução nas tarifas" que, no caso específico da Eletropaulo, consiste nas diferenças de preços praticados a partir das Resoluções Homologatórias da ANEEL nº 1.319 de 03/07/2012 e nº 1.436 de 24/01/2013, respectivamente.

O cálculo é feito incluindo alguns Tributos que incidem sobre as Contas de Luz, como PIS e o COFINS (já somados como um único valor) e o ICMS mas, sem considerar, no entanto, outras Taxas, como a CIP (Contribuição de Iluminação Pública) e o Seguro Proteção Premiada (específico da Eletropaulo), além de o PIS/COFINS ser calculado sem considerar as variações mensais da alíquota em função dos créditos obtidos pelas concessionárias.

No dia 23/02/2013, em pronunciamento veiculado em rede nacional de rádio e TV, a presidenta Dilma Rousseff confirmou a redução na tarifa de energia elétrica, comentando  que "fracassaram" as previsões daqueles que "são do contra" e que, segundo ela, afirmaram que o governo não conseguiria baixar o custo da conta de luz.

Segundo a FIESP, cujo presidente Paulo Skaf liderou a campanha de mobilização social denominada "Energia a Preço Justo", lançada em 2011, a redução da tarifa é de 18,25%. Já, em seu pronunciamento, Dilma falou em 18% para residências e 32% para a indústria.

Assim sendo, tendo em mãos a minha última fatura recebida, cuja leitura foi realizada 29/01/2013 e, portanto, depois da data de entrada em vigor da redução da Tarifa (24/01/2013), lá fui eu para o site da FIESP a fim de conferir as contas. 

Resultado: mesmo considerando possíveis desvios toleráveis, o fato é que: a simulação feita com a ferramenta de cálculo da FIESP, apresentou valores bastante inferiores do que os que foram efetivamente praticados na fatura de cobrança da AES Eletropaulo, conforme dados apresentados na tabela comparativa que eu mostro a seguir:

Concessionária: AES Eletropaulo Valores da Ferramenta de Cálculo “Energia a Preço Justo” Valores da Fatura da Eletropaulo
Nível de Tensão: Baixa TensãoANTES ...  Se Contas de Luz com Leituras Antes de 24/01/2013  DEPOIS ... Contas de Luz com Leituras Após 24/01/2013 CASO REAL Leitura: 29/01/2013 Vencimento: 08/02/2013
Tarifa B1 Residencial
Itens Valores Valores Valores
Consumo de Energia no Mês (kW.h) 310 310 310
Tarifa Homologada ANEEL-Eletropaulo (R$/MW.h) 291,14 238,01 238,01
Energia (R$) TUSD 90,25 73,78 42,01
TE 45,14
PIS + COFINS (R$) PIS/PASEP 4,55 3,72 1,08
COFINS 4,94
ICMS (R$) 31,6 25,83 31,04

CIP – Contribuição Iluminação Pública (R$) Não consta Não Consta 8,17
Seguro Proteção Premiada (R$) Não consta Não Consta 4,23

Total (R$) 126,4 103,34 136,59


Como vocês podem observar, o cálculo simulado com a Ferramenta Energia a Preço Justo do site da FIESP, para o meu consumo no mês, que foi de 310 kW.h, resulta em um valor total de R$ 103,34, enquanto que o valor total que aparece na fatura da Eletropaulo é de R$ 136,59.

Uma diferença a maior, de exatos R$ 33,25 (uma diferença bem grande, de 32,20 % a mais, muito maior até do que a própria "redução da tarifa", que a FIESP declara, para o meu caso, quando eu uso a  Ferramenta Energia a Preço Justo do site da FIESP, como sendo de 18,25%.

O que estaria dando errado? A FIESP (assim como a Presidência da nossa Republica) estão enganadas em seu número que apresenta um exagerado otimismo?  (Lembrando, com isso que, quem por fim, verdadeiramente, escreve as regras não é nem o Governo e, muito menos a FIESP, mas, sim, é a ANEEL). Ou seria a Eletropaulo que se enganou e, consequentemente, me enganou? Mesmo torcendo para que a FIESP (e a pronunciação do Governo) estejam certas, eu ainda não sei ao certo o porquê mas, eu creio que podemos, juntos identificar o o quê.

Só para constar, vamos falar, antes, de uma parcela daquela diferença, daquilo que não é, exatamente o o quê: os valores do CIP e do Seguro, que não constam do cálculo da "Energia a Preço Justo" do site da FIESP. Isso é compreensível, pois, no caso da CIP, cada Município tem a sua, e é muito difícil aceder a uma base de dados sobre isso e quanto ao Seguro, ele é coisa própria da Eletropaulo).

Os meus valores de CIP e de Seguro somados perfazem R$ 12,40 mas, sendo a diferença total nas contas de R$ 33,25, ainda restará uma parcela a maior, de  R$ 20,85 (33,20 - 12,40) para ser explicada. Então vamos lá:

Como foi explicado na postagem anterior, Como Comparar Custos de Consumo entre Veículos a Combustão e Veículos Elétricos Parte 2/3, existe uma Tarifas para o Fornecimento de Energia Elétrica definida na Resolução nº 1436 de 24/01/2013 da ANEEL - validas para leituras a partir de 24/01/2013. É essa a resolução da ANEEL que está vigorando na data atual mas, ela é valida especificamente para a concessionária Eletropaulo.

Para as demais concessionárias foram lançadas pela ANNEL outras Resoluções Homologatórias, que são específicas para cada empresa concessionária. Dai o fato de que, cada qual tem o seu "Preço de Tabela", que atualmente varia desde R$ 197,29 até R$ 360,70.

Assim, o Valor de Tarifa apresentado, que é de 238,01 R$/MW.h, ou seja, significando R$ 238,01 por cada 1 MW.h de energia consumida é o "preço tabelado da energia", valido apenas para a concessionária Eletropaulo.

Para saber o valor especifico da Tarifas para o Fornecimento de Energia Elétrica da sua concessionária, além de usar a Ferramenta Energia a Preço Justo do site da FIESP, você pode, também, aceder à listagem completa que inclui todas as concessionárias e que se encontra no site da ANEEL em Conheça as Tarifas da Classe de Consumo Residencial de uma Concessionária.

Só tome o cuidado de considerar que, nesta listagem, os valores se encontram em R$/kW.h (reais por quilowatt-hora) e não em R$/MW.h (reais por megawatt-hora), ou seja, conforme ele aparece na lista, no caso da Eletropaulo é de 0,23801 R$/kW.h. Já no site da Energia a Preço Justo aparece 238,01 R$/MW.h.


Como a Energia a Preço Justo é Calculada:


O site da Energia a Preço Justo faz o cálculo de uma maneira bastante simples e, exatamente como eu gostaria que realmente fosse: simplesmente tomando o valor consumo (o meu foi de 310 kW.h no mês), convertendo para megawatt-hora (310 kW.h = 0,31 MW.h) e multiplicando pela Tarifa da minha concessionária (R$ 238,01):

0,31 x 238,01 = 73,78 ou seja, R$ 73,78

Muito simples e desejável mas, todavia, diante da diferença com relação ao que aparece na minha fatura, ou isso não é aplicável assim, ou não pôde ser aplicável ainda ou, então, a Eletropaulo errou.

Como a Eletropaulo Faturou o Meu Consumo:


Na minha fatura continua aparecendo a discriminação da Tarifa nas duas parcelas TUSD e TE (parcelas que eu explique naquela postagem anterior Como Comparar Custos de Consumo entre Veículos a Combustão e Veículos Elétricos Parte 2/3).

Deste modo, o preço cobrado acaba se tornando maior, sendo as parcelas nos valores de R$ 42,01 (relativo ao TUSD) e de R$ 45,14 (relativo ao TE), o que perfaz um total R$ 87,15 somando as duas parcelas. Ou seja, temos ai uma diferença de 87,15 - 73,78 = 13,37 (R$ 13,37).

Sobre esse valor de diferença incidem ainda, também, os Tributos (PIS + COFINS + ICMS), o que explica o restante da diferença que se apresenta, que foi calculada alguns parágrafos acima, como sendo de R$ 20,85.

O Que Fazer?


Diante da diferença apresentada, resolvi então comparar, também, a faturas seguinte mas, isso não me é possível, ainda, pois, apesar de já estarmos, hoje, na data costumeira de vencimento do pagamento da conta, ela ainda não foi-me entregue. Ao que tudo indica, o mercado está confuso diante da transição e assim, eu esperarei mas, ...

Até provas em contrário, apesar de agora haver a incerteza quanto ao Valor de Referência de Custo de Energia Elétrica (em R$/kW.h), que nós determinamos na postagem anterior, com o exclusivo intuito de poder calcular Custo do Consumo por Unidade de Rodagem (em R$/km), a partir da Rodagem por Unidade de Consumo (em km/kW.h) dos VEs, aquele valor determinado como típico, conforme as justificativas presentadas na ocasião, aplicável aos consumidores residenciais:
  • R$ 440,61 por cada 1 MW.h, será mantido por esse blog e será utilizado para mais um exclusivo intuito, que será o calcular, agora, o "Impacto do Carregamento Doméstico de VEs".

Calculo do Consumo Mensal de Energia de um VE Médio Típico:


Agora precisamos estabelecer uma certa Taxa de Rodagem, de preferência em km/mês, que possa ser considerada como típica para os Veículos Elétricos, enquanto automóveis particulares, na qual possamos nos basear para fazer o cálculo.

A Frequência Mensal para a Taxa de Rodagem nos interessa pois, assim coincide com a frequência do Faturamento do Consumo de Energia Elétrica, que é também mensal.

Em um artigo titulado "A Quilometragem Média Estimada da Frota Brasileira de Veículos" o Sindirepa - Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo, que é a representante legal da categoria econômica desse setor industrial, apresenta um quadro definindo Taxas de Rodagem Mensal para diversas categorias de Veículos Automotores.

Segundo esse artigo, os Automóveis (particulares) rodam em média 1.800 km / mês. Obviamente que o levantamento feito para se chegar a tal número não deve ter considerado qualquer situação específica sobre VEs, até porque, o que temos de VEs circulando em São Paulo deve ser de apenas poucas dúzias de carros, além dos Dez Táxis do convênio encabeçado pela Nissan e pela Prefeitura da Capital.

Eu creio que os Táxis devam rodar mais do que 1800 km/mês apurados pela Sindirepa mas, táxis são uma categoria que deverá utilizar, prioritariamente, carregamento feito dentro de instalações comerciais e, pouco frequentemente em instalações residências. Dai, quanto a questão do carregamento doméstico, o foco é mesmo nos automóveis particulares.

Assim, o número da Sindirepa (1800 km/mês) me parece um bom número para se basear visando o cálculo do Consumo de Energia, até porque, essa é uma entidade a nível estadual e, por conseguinte, o seu número deve refletir bem o que acontece no Estado de São Paulo, mesma base de onde se origina o Valor de Referência de Custo de Energia Elétrica que utilizaremos em cálculos posteriores.

Se houver fatores que venham, futuramente, causar a variação desse número, é pouco provável que isso venha a estar ligado ao problema decorrente da mudança do tipo de carro de VCI para VE, até porque, um VE médio típico, como o Nissan LEAF e outros, já se encontra, hoje, em plenas condições de suprir a mobilidade necessária, se utilizando da forma de carregamento doméstico, satisfazendo a necessidade de rodagem de 1800 km/mês, de um modo bastante tranquilo e confortável, além ambientalmente amigável.

Deste modo, podemos fazer o cálculo do Consumo Mensal de Energia Elétrica de um VE Médio Típico, utilizando o valor do Valor Médio da Rodagem por Unidade de Consumo (aquele que  foi definido na postagem anterior como sendo ótimo e aceitável para todos os efeitos de cálculo de Custo de Consumo para Aplicação Geral do Nissan LEAF), como sendo de 6,5 km/kW.h.

Assim, teremos:

1800 ÷ 6,5 = 276,9 kW.h/mês  ... arredondando ... = 277 kW.h/mês (1) 

Se você, consumidor de baixa tensão residencial normal (como eu) entrar apenas com esse valor de consumo (277 kW.h) no site Energia a Preço Justo, obterá como resposta de total, o valor de R$ 92,34. Se incluirmos ai a CIP (que é obrigatória no seu Município) e o Seguro (se é que você paga seguro pois, pode pedir cancelamento dele) pode somar ai uns R$ 12,00, no máximo, perfazendo algo como R$ 102,34.

Você há de concordar que R$ 102,34 é um ótimo valor de se pagar pela energia que te permite rodar 1800 km num mês. Parece até bem barato, perto do que você está acostumado a pagar de combustível para rodar os mesmos 1800 km em um VCI. Com um carro convencional com MCI da categoria 1.6, você dificilmente conseguiria gastar menos de R$ 300,00 para rodar os mesmos 1800 km.

Talvez isso, agora, te deixe animado a pensar na possibilidade de poder utilizar um VE em breve. É bom que você pense pois, os VEs são inevitáveis mas, talvez as contas não fechem de maneira tão simples, em um número tão vantajoso, como nós calculamos dois parágrafos acima. Por que?

A primeira coisa a considerar é que, a menos que eu dê um jeito de conseguir instalar um novo "Relógio" Medidor de Consumo na minha residência e, esse medidor novo seja empregado, exclusivamente, para medir o consumo de energia do carregamento do VE, não é 277 kW.h que eu devo considerar mas, sim, (310 + 277) kW.h (onde 310 é o consumo que eu já tinha antes de passar a carregar o VE em casa). Assim, o consumo total passa para 587 kW.h.

Então você me pergunta: E dai, não dá na mesma? A parte da Tarifa relativa ao consumo do Veículo Elétrico não vai ser a mesma, ou seja, R$ 92,34 pelos 277 kW.h de consumo? A resposta é ...

SIM, se o método de cálculo usado no site Energia a Preço Justo da FIESP estiver correto, ou ...

NÃO, se as concessionárias continuarem a empregar o cálculo da Tarifa em duas parcelas distintas, as famigeradas TUST e TE a preços, ainda, maiores.

De fato, a minha concessionária, a AES Eletropaulo, até o presente momento, continua a usá-los, por isso o valor da minha última fatura não bate com o cálculo da Energia a Preço Justo e eu estou pagando um preço maior pois, acredito que neste mês estão usando TUST e TE com preços de Tarifa diferenciados por faixa de consumo (não encontro outra explicação).

É como se aquele valor de Tarifa tabelado por concessionária perdesse totalmente o efeito, e o valor da Tarifa passasse, na verdade, a ser outro, que se torna maior e maior ainda, quanto mais se aumenta o próprio consumo e se vai subindo de faixa.

Mas é como eu disse anteriormente, eu espero que isso seja só um "pesadelo", fruto de uma confusão transitória, causada pelos excessos de delírios da tecnocracia brasileira e, que a Tarifa aplicada à minha "conta de luz", se torne, efetivamente, em uma Energia a Preço Justo.

Com Energia a Preço Justo um VE médio típico é cerca de 3 X mais econômico, em termos de custo da energia motora, do que um VCI equivalente.



O Impacto do Carregamento Doméstico de VEs nas Instalações Elétricas Residencias:


Que a verdade seja dita: a grande maioria das residências no Brasil, mesmo as de classe média, não possuem uma instalação elétrica adequada para assimilar o carregamento de VEs, sem uma boa reforma na mesma. Considere que, agregar a uma residencia um consumo mensal novo da ordem de 277 kW.h é quase dobrar o consumo mensal que já existe hoje (que no meu caso é de 300 ~ 310 kW.h).

Isso não é nenhuma brincadeira, nem algo fácil de se tornar factível. 1.000.000 de VEs equivaleria a 1.000.000 de novas famílias consumido energia elétrica em suas novas residências. Os gestores do Sistema Elétrico Interligado teriam toda a razão de considerar isso como algo temerário e, eu não me surpreenderia em descobrir que dai advenha, até, alguma oposição mais séria ao deslanche do mercado de VEs no Brasil.

Além da adequação das instalações elétricas das residencias, também uma "Cultura de Carregamento Doméstico de VEs" precisará ser desenvolvida, principalmente no tocante ao horário ao longo das 24 horas do dia que os VEs poderão ser conectados ao carregamento. As operações de carregamento de VEs, devem, sobretudo, ser programadas para evitar os Horários de Pico de Consumo.

Um VE médio típico que rodar 1800 km/mês, considerando que ele rode, digamos somente em uns 25 dias por mês, isso equivalerá a uma Rodagem Média a Cada Dia de:


 1800 ÷ 25 = 72 km

Óbvio que poderão haver muitos dias em que o VE rode apenas uns 25 km e, em seguida, pode vir um dia em que ele precise rodar logo uns 300 km, em um só dia mas, vamos pensar em termos de média.

Com o nosso VE médio padrão rodando 72 km em um dia, utilizando a informação Valor Médio da Rodagem por Unidade de Consumo dele, que é de 6,5 km/kW.h , podemos calcular o Consumo Médio em Um Dia. Um  VE médio padrão, consumirá, em um dia, a quantidade de energia de:


72  ÷ 6,5 = 11,08 kW.h

Se, por acaso a Capacidade de Carga Nominal da Bateria do VE for considerada como sendo de 24 kW.h (tal qual no Nissan LEAF o é), teríamos consumido dessa capacidade:


(11,08 ÷ 24) x 100% = 46,15 % (ou pouco menos da metade) da
Capacidade de Carga Nominal da Bateria (que é a condição da Bateria Cheia de carga).

É conveniente que essa carga ora consumida seja reposta à bateria, de preferência no mesmo dia, deixando o VE convenientemente abastecido ao máximo (equivalente a "tanque cheio") para o dia seguinte, isso poderá ser feito no período de descanso do carro e fora de horário de pico de consumo.

A urgência na operação de reposição da carga se dá, até mesmo, pelo fato de que o "tanque do carro", ou seja, de que a Bateria dos VEs típicos, ainda não serem tão "grande" quanto desejamos, para nos deixar mais relaxados, como, de fato, nos deixam, atualmente, os VCIs. Isso é um ponto nevrálgico na questão dos VEs: a ansiedade por autonomia e, isso somente será total e satisfatoriamente resolvido, em um prazo de até 10 ~ 12 anos a partir daqui, com o gradual avanço da Tecnologias das Bateria de Ions de Lítio, principalmente.

Lembrando, mais uma vez, que quando falamos de VEs típicos, estamos falando daqueles carros mais acessíveis às populações humanas comuns, tais como o Nissan LEAF mesmo (US$ 29.000 até uns US$ 36.000 no mercado dos EUA) e não falamos de VEs super potentes e luxuosos, como os excelentes carros Tesla Model S da Tesla Motors (US$ 95.000 a 105.000 nos EUA).


Nissan LEAF 1/2 assoalho recortado mostrando a metade do Pacote de Baterias de Íons de Lítio com Capacidade de 24 kW.h - Na parte frontal, acima, onde chega o cabo de cor laranja, o Inversor de Frequência

Então, a Autonomia (ou alcance) do nosso VE médio padrão pode, também, ser estimada (também enquanto média), por meio de considerarmos a sua Capacidade de Carga Nominal da Bateria e o seu Valor Médio da Rodagem por Unidade de Consumo, como mostrado a seguir:

24 x 6.5 = 156 km

Sim, apenas 156 km em média de Autonomia e, isso é deveras causador de impacto de rejeição psicológica para quem está acostumado com VCIs cuja média de autonomia está sempre a casa dos 500 km

Manual do Manual do Proprietário do ano 2013 do Nissan LEAF, na seção EV Overview, especificamente em Efficient Use of Your Vehicle - Range (página EV-23), afirma que a autonomia do veículo depende de uma série de fatores e, ali a Nissan alega que, quando a Bateria Íons de Lítio é nova, a autonomia estimada do veículo, com sua bateria totalmente carregada é de aproximadamente 100 milhas (160 km) com base no teste de laboratório EPA comumente chamado de ciclo de condução modo LA4Este teste representa condições de condução da cidade.

Ali, também, a Nissan também alerta que a autonomia real pode variar, inicialmente ou com o envelhecimento da bateria e com o uso ao longo do tempo e que a maioria dos motoristas irá experimentar autonomias tão variadas quanto, desde 99 km até 222 km, com base em vários fatores que afetam a autonomia do veículo. Tudo isso foi amplamente discutido na postagem anterior.

Sem dúvida isso pode ser tido como algo cruel e, só pode ser vencido por aqueles que se dispuserem a ser mais racionais e, ao mesmo tempo, apostadores esperançosos. Não apenas a questão da provisão de mobilidade necessária está em jogo mas, toda a economia popular o está neste momento.

A única grande vantagem de se morar em um país em permanente atraso tecnológico é que nestas horas não precisamos ser nós a "dar a cara ao tapa" e podemos "ficar a espreita", observando e aprendendo com os erros dos outros. Todavia permanecemos na dependência das decisões e atitudes destes mesmo "outros", que podem até mesmo, nos obrigar a tropeçar conforme bem entenderem.

Vejo isso no caso do recente lançamento do Veículo Hibrido Toyota Prius no Brasil, não porque ele não seja um bom carro, pois ele o é. Segundo a certificação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), o Prius 2010 foi o automóvel disponível no mercado com a maior economia de combustível dos Estados Unidos.

Todavia, apoiada na realidade de ainda não haver nada em termos de infraestrutura pública para carregamento de VEs no Brasil, a Toyota empurra no mercado uma versão do carro que não é Plug-In, uma tecnologia ultrapassada, um veículo ano 2010 maquiado de 2013. Isso é ser obrigado a tropeçar e, isso é resultado do atraso e da dependência tecnológica.


A Questão do Tempo de Recarga das Baterias de VEs:


Quanto a questão do Tempo de Recarga das Baterias de VEs, se para o carregamento desse nosso VE médio típico, for empregado um Carregador com Potência Nominal de 3,3 kW, a operação de carregamento que reponha Consumo Médio em Um Dia (que estimamos anteriormente em 11,08 kW.h)demandará um tempo de:


11,08  ÷ 3,3 = 3,17 hs

Assim, usando-se uma da forma de carregamento bastante simples, que demanda o menor custo de implantação de infraestrutura pois, ela pode ser provida a partir de um "simples" Ponto de Tomada de Uso Específico (PTUE) de 220 Volts, 15 Amperes (suficiente para prover os 3,3 kW de Potência), usando, inclusive, o próprio cabo que acompanha o carro como acessório original de fábrica e, ao mesmo tempo, também aquela forma de carregamento (carregamento lento) que é a que permite que as baterias dos VEs tenham a maior durabilidade de Vida Útil possível, o nosso VE reporá plenamente a carga média diária consumida em menos de 3,5 h de operação de carregamento.

Apesar de, acima, eu ter enaltecido a "simplicidade" do Ponto de Tomada de Uso Específico (PTUE) de 220 Volts, 15 Amperes (suficiente para prover os 3,3 kW de Potência), necessário para prover o carregamento lento, ele não é, de fato, tão simples assim. Para se ter uma ideia, comparativamente, a potência de 3,3 kW coincide com o mesmo valor da menor Classe de Potência especificada para os Chuveiros Elétricos, que se encontra definido na Norma da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, a NBR 12483/1992.

Em outras palavras, isso equivale a um chuveiro elétrico comum ligado na posição de seleção "VERÃO" por um período de quase 3 horas e 1/2. Em todos os sentidos e aspectos, isso não é nada que se possa menosprezar, ao se deseja-se vislumbrar uma avaliação adequada do Impacto do Carregamento Doméstico de VEs nas Instalações Elétricas Residencias.

Outra coisa importante de se considerar é que, em 3,5 h reporemos apenas cerca de 50% da Capacidade de Carga Nominal da Bateria. Caso precisássemos recarregar 100% da capacidade da Bateria e fôssemos realizar a operação de carregamento à mesma potência de 3,3 kW, isso demandaria um tempo aproximado de 7 hs.

Para alguns usuários de VEs este tempo pode ser considerado muito longo, principalmente quando se deseja praticar o bom hábito encaixar a operação de carregamento dentro de horários que evitem os intervalos de tempo em que ocorram, tipicamente, os piores e mais altos picos de consumo de energia elétrica, que incidem sobre toda a estrutura do Sistema Elétrico Interligado.

Além de colaborar com o sistema e com o meio ambiente neste sentido, muitos usuário de VEs talvez desejem, também, ver esse tempo da operação de carregamento reduzido e isso só é possível  se considerar-se o emprego de dispositivos de carregamento que permitam a operação sob uma Potência mais elevada.

Não obstante o fato de que, operações de carregamento mais rápidas não impliquem em aumento de consumo, podem acabar implicando, sim, em uma necessidade de um sistema elétrico mais robusto em os níveis, desde a instalação elétrica da residência, passando para todo sistema elétrico público, em distribuição, transmissão e geração de energia elétrica.

Dai a urgência das instituições reguladoras e normalizadoras brasileiras passarem a estabelecer regras, limites e padrões para isso pois, o gradual estabelecimento de um mercado de VEs é algo inevitável, mesmo no país do Etanol.

De fato, segundo os padrões internacionais mais aceitos atualmente para carregamentos domésticos de VEs, a saber: a SAE-J1772-AC Nível 2, usualmente a Corrente Elétrica de até 50 A (cinquenta Ampères mas, limitada efetivamente a um valor tão elevado quanto 80 A), podem ser praticadas na operação de carregamento de VEs.

Operando o carregamento do VE a uma Corrente 50 A e sob uma Tensão Nominal de 220 V, isso nos remete a uma potência de 11 kV.A, ou ainda, também 11 kW  (dado a natureza predominantemente resistiva da carga em operação, característica que é provida pela ação dos Circuitos Conversores de Eletrônica de Potência Embarcados nos VEs. Para mais detalhes sobre isso, ver: Sobre Carregamento de Veículos Elétricos e / ou Conversores Bidirecionais Integrados CA/CC e CC/CC para EVs e PHEVs).

11 kW é uma potência bastante elevada em se tratando de aparelhos elétricos consumindo energia elétrica a partir de instalações elétricas residenciais. Particularmente, eu diria que qualquer potência superior a 9,9 kW para carregamento de VEs seria algo altamente temerário de se conceber, na realidade atual.

Todavia, o efetivo limite da Corrente de Carregamento, não depende apenas dos sistema elétrico externo aos VEs mas, depende também, e em última instância, do limite que é imposto pelos Circuitos Conversores de Eletrônica de Potência embarcados nos VEs. Por exemplo, o Nissan LEAF com novas especificações, a ser apresentado ao mercado mundial provavelmente em meados de 2013, terá um Carregador Embarcado que limita a potência em 6,6 kW.

Isso já é algo bastante razoável e reduz os tempos das operações de carregamentos praticados atualmente pela metade, ou seja, pode-se-á carregar plenamente uma "Bateria Totalmente Vazia" em cerca de 3 h e 1/2 e, ainda assim, estaremos operando na categoria de carregamento de carga lenta, preservando ao máximo a vida útil da cara bateria.

Lembrando que, para atingirmos isso, requer que operemos sempre sob a Tensão de Nominal de 220 V pois, caso usássemos a tensão nominal de menor valor, de 120 ~ 127 V, como, de fato, aquilo que os Carregadores Embarcados nos VEs efetivamente limitam é a Corrente, com a mesma corrente e uma tensão reduzida, resulta em uma potência também reduzida pois: Potência = Tensão x Corrente , de modo que, com potência reduzida por causa da tensão nominal menor, voltaríamos a ter tempos de operação de carregamento longos.

Já, passando agora um breve olhar sobre mercado de VEs Especiais, como o do superpotente Tesla Modelo S 2012 de Luxo, que tem seu desempenho provido por um super motor elétrico de magistrais 416 hp (422 CV ou  ainda 310 kW), no qual se buscou desenvolver esforços para ampliar, também, ao máximo possível, a autonomia, é equipado com uma respeitável bateria dotada da capacidade de 85 kW.h.

Este VE, tem como equipamento de carregamento mais simples e, que acompanha o produto como acessório original de fábrica, um dispositivo portátil que opera a 220 V, 50 A e, este é, então, o requisito mínimo para se carregar a bateria deste maravilhoso VE: 11 kW de potência.

Por causa da grande capacidade da bateria desse VE, mesmo operando a essa elevada potência, o tempo da operação de carregamento pleno da "bateria totalmente vazia" é de cerca de 8 horas.

Se alguém por ai, já conseguiu a proeza de ter um VE desses em casa, que Deus nos acuda (e que os Bombeiros fiquem de alerta)! Por gentileza, tome o devido cuidado de certificar-se de que a instalação elétrica da sua residência (e da sua rua), seja compatível com o seu poder aquisitivo em automóveis.

A única maneira de "driblar" isso, passando a demandar uma potência menor e mantendo o modo de carregamento lento doméstico, seria descartando o uso do carregador portátil original e adquirindo / instalando um outro dispositivo carregador que, ao ser conectado ao veículo, informa-o por meio do protocolo de comunicação SAE-J1772, que a corrente disponível ao carregamento é outra, menor do que aquela de 50 A , que é informada pelo carregador portátil original (ou, então, fazer uma alteração de hardware internamente no carregador portátil original para que esse negocie com o VE uma corrente menor).

A demais, o modelo de tomada necessário para se plugar o tal carregador portátil original do Tesla Modelo S 2012 de Luxo ao circuito fonte de energia da instalação elétrica da residencia, a tomada NEMA 14-50, sequer se encontra disponível no mercado nacional. Mas o que seria uma tomada para quem conseguiu trazer o carro? 

Comentário Final:


É com uma Grata Satisfação que eu informo aos leitores que, acabei de receber agora mesmo (14h e 30min de 09/03/2013), uma nova fatura de consumo de energia elétrica da concessionária junto a qual eu sou cliente, a Eletropaulo. Nesta nova fatura (agora atual fatura), apesar de eu continuar a ser Tarifado pelas duas parcelas TUSD e TE, os índices relativos a TUSD e a TE,  agora mudaram para valores menores!

Então, ficamos assim:

Parcela TUSD:

Na "conta de luz" anterior, cuja leitura foi em 29/01/2013, o índice da TUSD foi de:
0,13555000 (R$/kW.h).

Na "conta de luz" atual, cuja leitura foi em 27/02/2013, o índice da TUSD passou a ser de:
0,10358000 (R$/kW.h) ... uma redução considerável, de 23,58% nesta parcela!

Parcela TE:

Na "conta de luz" anterior, cuja leitura foi em 29/01/2013, o índice da TE foi de:
0,14563000 (R$/kW.h).

Na "conta de luz" atual, cuja leitura foi em 27/02/2013, o índice da TE passou a ser de:
0,13443000 (R$/kW.h) ... uma redução de 7,69% nesta parcela!


E quer saber o que é ainda melhor? Somando os dois novos (atuais) índices das respectivas parcelas temos:

0,10358 + 0,13443 = 0,23801 ... ou seja, 0,23801 R$/kW.h = 238,01 R$/MW.h

Isso mesmo, exatamente isso, o "preço de tabela", o valor da Tarifa homologado pela ANEEL para a Eletropaulo na Resolução Homologatória da ANEEL nº 1436 de 24/01/2013 (só que eu esperava por ele  desde a fatura anterior, como era de se esperar, já que a leitura do consumo havia sido feita 5 dias após a entrada em vigor da RH 1436)!

Apenas para constar, o meu consumo mensal atual foi de 299 kW.h e a soma das duas parcelas (TUSD + TE) perfaz um total de R$ 71,16. Então eu entrei  novamente no site da Energia a Preço Justo e lancei os dados informativos na ferramenta de cálculo dali e, adivinhem?!?

Isso mesmo, o cálculo simulado bateu perfeitamente com o valor da fatura! Possivelmente a demora de um mês a mais para efetivar a redução da Tarifa, talvez tenha alguma explicação em algo que eu não estudei, por que não encontrei ainda (possivelmente uma brecha na instrução da ANEEL que a concessionaria se aproveitou). Mas o fato é que agora está correto.

Enfim, o mais importante de tudo: lembrem-se que com isso, os VEs (que nós ainda não podemos comprar) passam a ficar ainda mais econômicos! Obrigado pela atenção e, até a próxima postagem aqui!

FIM!


Notas:


(1) Apenas a título e curiosidade: o valor do Consumo Mensal de Energia Elétrica de um VE Médio Típico que nós calculamos (277 kW.h/mês) é bem diferente (maior) do que aquele que aparece como sugerido em uma recente prova de concurso do BNDES. Na prova de número 24 - Formação Engenharia (2ª Fase), a questão de número 2, sugeriu que “Segundo a Eletrobras, o consumo é pouco menor do que o de um ar-condicionado doméstico que funciona 8 horas por dia durante um mês, com consumo de 128 kW.h (por mês).” O texto da questão da prova da conta de que esse dado é proveniente da postagem titulada "Carros elétricos - Brasil pode se ligar na tomada" (de 12/05/2012). Todavia, aquela mesma postagem da conta, também, de uma outra avaliação muito mais correta e realista: de 156 kW.h para 1000 km/mês de rodagem, o que corresponde a 280,8 kW.h, se considerado para 1800 km/mês de rodagem e, portanto, muitíssimo próximo do nosso cálculo.

Veja também:

Como Comparar Custos de Consumo entre Veículos a Combustão e Veículos Elétricos - Parte 1/3



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Baterias de Íons de Lítio – Tecnologias e Bases de Custos (Parte 3/3)

Nota: Esta postagem é uma continuação (terceira e última parte) de um conjunto de postagens iniciadas anteriormente neste blog, todas sob o título “Baterias de Íons de Lítio – Tecnologias e Bases de Custos”, a qual trata-se de uma tradução, adaptada e comentada, de um relatório de mesmo título (em inglês) do “The Boston Consulting Group”. Para um bom entendimento de algumas partes aqui contidas, pode ser necessário referir-se às postagens anteriores.

Custos da Infraestrutura para Carregamento:

A Infraestrutura de Carregamento é outro componente importante dos custos operacionais dos veículos elétricos. Estima-se que o custo total da infraestrutura de carregamento instalado até 2020 será de aproximadamente US$ 20 bilhões: cerca de 40 por cento nos Estados Unidos, 30% em Europa, e 30% no resto do mundo. Cerca de 60% (US$ 12 bilhões) deste custo será para financiar a criação e apoio de infraestrutura de carregamento público, que terá de ser financiado (pelo menos inicialmente) por governos, empresas de energia, ou contratados privados.

O quantidade de estações necessárias por número de veículos e o custo de construção de cada uma são frequentemente citados como os principais determinantes do custo total da infraestrutura de carregamento, no entanto, deve-se considerar que os perfis de carga e diversificação dos veículo são também essenciais para o cálculo. Por exemplo, os proprietários de veículos nos Estados Unidos e Japão são mais propensos do que os proprietários na Europa para ter acesso às estações mais baratas de carregamento doméstico. Além disso, os proprietários nos Estados Unidos são mais propensos que os europeus para comprar veículos de alcance estendido (ou seja, os híbridos série) pois, esses veículos podem operar por mais tempo antes de recarregar, exigindo, portanto, menos estações de carregamento do que veículos elétricos puros e, portanto, implicando em menores custos de infraestrutura.

Estima-se que o aumento total da demanda por eletricidade criada por todos os VEs em 2020 para menos de 1 por cento. Apenas este aumento não é provável que requeira uma capacidade de geração adicional de energia a curto prazo. No entanto, mesmo que as vendas de veículos elétricos estabilize em um patamar de apenas 3% a 5% da quota de mercado global, o número de veículos elétricos na estrada entre 2020 e 2030 elevaria a demanda por eletricidade em até 1% / ano. Em resposta, talvez seja necessário que as empresas de energia aumentem a capacidade de oferta de energia. No curto prazo, os serviços públicos locais podem ter que atualizar alguns segmentos da rede para lidar com uma carga maior em áreas onde um grande número de veículos elétricos são frequentemente carregados.

Sobre temas que envolvem carregamento de VEs e o sistema elétrico, vários tópicos já foram postados aqui mesmo neste mesmo blog, orientando para a seguinte linha de recomendação:


Carregamento Doméstico de VE:

Quem decidir apostar no carro elétrico puro, muito provavelmente se sentirá mais a vontade na medida que possa optar por possuir um Equipamento de Carregamento da bateria do VE para uso doméstico, sendo este de capacidade adequada, instalado em sua própria garagem. O Brasil terá a oportunidade de começar, desde cedo, padronizado no que tange ao carregamento doméstico, que é feito por meio de um conector elétrico normalizado, de última geração, denominado SAE J1772, e com as estações podendo fornecer corrente elétrica da ordem de 30A, ou melhor ainda, de 50A, ou ainda mais, havendo possibilidade técnica.

Uma corrente disponível para carregamento mais elevada, tem a finalidade de prover um tempo de carregamento satisfatoriamente reduzido. Quanto mais avançarmos no futuro próximo, mais esse atributo será proveitoso e gratificante para o usuário de VEs. As estações de carregamento são simples, por fornecerem simplesmente a mesma CA (Corrente Alternada) da rede elétrica, têm bem poucas peças, mas algumas peças são bem caras, como o próprio Conector SAE J1772, que não sai por menos de R$ 300 !!! (isso, se for das mãos dos chineses, que é mais barato). Assim, elas deverão custar, prontas e instalada, algo entre R$1200 e RS1700 cada uma, preço estimado para o período entre 2013 e 2020.

Para que estas estações de carregamento possam ser instaladas nas residências, muito provavelmente, elas deverão exigir a necessidade de alguma reforma nas instalações elétricas do imóvel, como por exemplo:
  • Obrigatoriedade da Proteção por Aterramento (presença do condutor PEN ou PE é necessária, não apenas por razões de segurança, mas também por motivos funcionais);
  • Redimensionamento da seção dos cabos condutores carregados (fase 1 e fase 2, em 220V) para suportar a corrente de trabalho nominal do carregamento (recomendável 50A);
  • Proteção das pessoas contra choques elétricos por emprego de Interruptor DR (exigido na norma NBR 5410/2004), necessária no novo circuito desta Tomada de Uso Específico (ou, ao menos, na proteção geral);
  • Provisão de um Ponto de Tomada de Uso Específico adequada (seja na garagem ou outro local onde se fará o carregamento).
Esta pequena reforma da instalação elétrica demandará um investimentos extra, que poderá variar de R$200 a R$700, já incluindo mão de obra, de modo que o custo total de propriedade de uma Estação de Carregamento Doméstica será algo em torno de de R$1400 a R$2400, para se poder passar a carregar um VE em casa, com comodidade, de modo satisfatório, seguro e dentro das normas.

Todos os imóveis residenciais nos quais foram realizadas mudanças de Chuveiro Elétrico para Aquecimento a Gás Natural, poderão vir a gastar menos na parte do investimento relativo à reforma da instalação elétrica pois, de modo antecipado, muito provavelmente, o seu Quadro de Distribuição de Circuitos já conterá um circuito elétrico em disponibilidade (o do antigo chuveiro elétrico), que poderá ser devidamente adaptado para uso de ligação de uma Estação de Carregamento de VE nível 2.


Outra coisa é que, muito mais importante que investir em aumento de oferta de energia elétrica, até porque a previsão de acréscimo de demanda não parece requerer um incremento capacidade de geração de energia a curto ou médio prazo, as concessionárias de energia elétrica deverão, sim, investir em campanhas orientativas, a fim de que os usuários de VEs façam o carregamento de seus carros no período das 0hs as 7hs, não tão somente para evitar os piores horários de pico mas, consumindo energia da rede elétrica  apenas no período de mais baixa demanda, provendo uma ótima distribuição da demanda ao longo do dia.

Importa lembar ainda que, para isso, o carregamento pode ser, de modo trivial, programado pelo painel de um VE, para iniciar automaticamente, e findará também de modo automático, sem que seja necessário qualquer outra intervenção por parte do usuário.

Antecipando-se as futuras elevações da potência do carregador embarcado e da capacidade de energia das baterias dos VEs, é recomendável que os usuários de VEs optem por estações de carregamento doméstico de correntes mais elevadas (50A). 

Fique esperto também para outro detalhe: por causa das recentes normalizações dos conectores, alguns fabricantes de estações de recarga para VE acabaram ficando com algum estoque de produtos e de componentes que se tornaram, repentinamente, obsoletos e sem outra aplicação,. Infelizmente, e flagrei que estão tentando empurrar tais produtos ao mercado brasileiro sem se preocupar em retrabalha-los antes. Aceitando isso, você além de pagar um custo inicial caro pelo aparelho, descobrirá, posteriormente, que tem que gastar outro tanto adquirindo cabos adaptadores. Não vou citar marcas, mas se uma estação de carregamento contiver cabo com conector IEC-62196, para nível (modo) 2, não compre pois, já é produto obsoleto.

Carregamento Público / Coletivo / Comercial de VE:

Obviamente que, paralelamente ao carregamento doméstico, espera-se que o governo lidere e mobilize as ações necessárias para implantação de redes públicas comerciais de abastecimento rápido e que as concessionárias de energia provejam regras e tecnologias, tais como, por exemplo, a tecnologia de armazenamento intermediário, para locais onde se encontrem instaladas múltiplas estações de carregamento rápido, desenvolvida pela Itaipu Binacional.

O carregamento públicos comerciais são caracterizados por um tempo de carregamento muito menor que o doméstico (de 10 a 30 min.) e por fornecerem tensão já convertida para CC (corrente contínua) para o carregamento da bateria do EV. 

Neste tipo de equipamento (nível 3) também houve uma recente padronização do conetor, com assinatura de acordo entre oito montadoras a Ford, a General Motors e Chrysler e todas as cinco grandes alemãs, a Audi, a BMW, a Daimler, a Porsche e a Volkswagen.

O bom dessa padronização é que ela fortalece ainda mais a padronização que já existia do carregamento doméstico pois, o novo conector adotado deriva mecanicamente e, mantem compatibilidade elétrica com SAE J1772 (na verdade ele integra o SAE J1772). Este conector permite integrar, de fato, todos os tipos de carregamento, tanto público quanto doméstico. 


A sua aprovação foi uma derrota para os japoneses, que vinham apostando tudo no seu padrão CHAdeMO (em março de 2010, a Toyota, a Nissan, a Mitsubishi, a Fuji Heavy Industries e a Tokyo Electric Power concordaram em utilizar este padrão para a recarga dos VEs). Os japoneses vêm fabricando EVs e afins com dois conectores distintos: CHAdeMO e SAE J1772: é o preço do pioneirismo.

O novo conector aprovado por americanos e europeus, por enquanto conhecido apenas por "COMBO", permite um sistema de conexão que integra quatro opções de carregamento:
  • CA Monofásico (tipicamente doméstico, pelo padrão SAE J1772, usa apenas a parte superior do conector Combo);
  • CA Trifásico Rápido (os VEs precisarão vir a ter carregadores embarcados adequados diferentes, superiores aos que eles têm atualmente, para que isso venha a fazer sentido!!);
  • CC Rápido Para Uso Doméstico (para quem tiver cacife para isso pois, vai custar bem mais caro que os valores que eu apregoei acima);
  • CC Ultra Rápido (carregamento em estações públicas em uma entrada ou postos comerciais em cidades, de 10 a 30 minutos em carga, é aqui que esta confrontando com o CHAdeMO).

Todavia, de fato, parece a padronização pode não significar, ainda, o fim das disputas pois, de acordo com Wahid Nawabi, gerente geral da Aerovironment, a discussão sobre qual padrão a ser adotado está voltada diretamente para o consumidor: "Acredito que um padrão único, em que todos possam concordar, é positivo para a indústria. Se optarem pelo CHadeMO, Combo ou algum outro, para mim, não haverá diferença. Hoje, o padrão que faz mais sentido para o consumidor é o CHAdeMO porque, atualmente, os carros que estão sendo fabricados utilizam este padrão. Então, qual deveria ser o modelo a ser adotado? Você pode argumentar qual é o melhor, tenho certeza. Mas, o que é melhor para você: uma maçã ou uma laranja? Se você está com fome, você precisa de alimento." (k kk k kkk k kk k k, faz todo sentido!)

Para Pietro Erber, Diretor Presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), convém verificar se os fabricantes asiáticos, particularmente aqueles que já fabricam ou vão fabricar seus carros no Brasil podem adotar, no Brasil, o sistema previsto para os EUA e Europa. Será problemático adotar um sistema que prejudique sua participação no mercado brasileiro, particularmente como produtores. Por outro lado, também convém verificar se entre os fabricantes japoneses mencionados e os demais fabricantes asiáticos já há acordo quanto à tecnologia a ser adotada. O que não está claro é como os japoneses vão vender seus carros nos EUA e Europa com um sistema que não seja compatível com o sistema de recarga adotado por esses países.

Custo Total de Propriedade:

No curto e médio prazo, tanto o movimento dos entusiastas, quanto os créditos governamentais tendem a impulsionar a demanda por veículos elétricos na área dos países estudados.

No entanto, em 2020, o mercado de massa de compradores de carros já terão passado a um estágio mais racional e competitivo e a considerarão o perfil do Custo Total de Propriedade dos VEs, em contraponto com o dos veículos de combustão interna, ao fazer suas decisões de compra.

O Conceito de Custo Total de Propriedade (TCO – Total Cost Ownership) foi definido e explicado na primeira parte desta dissertação.

http://automoveiseletricos.blogspot.com.br/2012/07/baterias-de-ions-de-litio-tecnologias-e.html )

Esses consumidores pesarão a economia dos veículos elétricos (gerada por custos operacionais mais baixos em relação à gasolina) contra o aumento dos preços iniciais de compra, que ainda existirão em 2020.

Além disso, o balanceamento do Custo Total de Propriedade é uma função também dos custos operacionais, tais como o preço dos combustíveis, o custo relativo de manutenção, e os padrões de condução dos indivíduos, bem como por incentivos governamentais para as aquisições e os regimes de impostos locais.

Se os incentivos de compra do governo continuarem até e para além de 2020, isto irá influenciar diretamente, sem dúvida, o balanceamento do Custo Total de Propriedade que existirá naquele momento. No entanto, os incentivos governamentais atuais e planejadas foram definidas como medidas temporárias e, portanto, não devem ser incluídos em um cálculo de equilíbrio verdadeiro do estado do Custo Total de Propriedade futuro.

O Custo Total de Propriedade para os VEs é mais favorável em regiões onde os preços da gasolina são relativamente mais elevados do que os preços tanto do o do óleo (por causa dos impostos locais), quanto da eletricidade, e onde os potenciais proprietários dirigem distâncias relativamente mais longas a cada ano.


Por exemplo, os potenciais proprietários de um veículo de porte médio na União Europeia, onde os preços da gasolina estão altos por causa da tributação, e onde quilometragem rodada anual é moderadamente elevada, são mais propensos a comprar a economia de um VE do que os condutores em outros mercados, como Japão, onde as pessoas costumam dirigir menos e a eletricidade é relativamente cara.

O prazo para equilíbrio entre vantagens e desvantagem sobre Custo Total de Propriedade dos VEs no mercado dos EUA, está numa situação intermediária entre a da Europa e a do Japão, enquanto o custo relativamente baixo da gasolina faz com que alternativas sobre o motor a explosão sejam mais atraente nos Estados Unidos do que em outros lugares, porém, os consumidores americanos dirigem mais milhas por ano (aproximadamente 14.000) do que os condutores em outros grandes mercados, acelerando o retorno sobre um veículo elétrico.

A maioria dos países têm adotado programas de incentivo para estimular a demanda por veículos elétricos. Esses programas atualmente tem recursos limitados, pois eles variam de cerca de US$ 3.000 por carro comprado na China para cerca de US $ 7.500 por carro comprado na França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.

Certos programas japoneses oferecem até US$ 10.000 em incentivos para VEs. Se estes programas de incentivo continuarem existindo até 2020, a período necessário para se atingir de equilíbrio do Custo total de Propriedade entre um VE e um veículo com motor a combustão interna, nas nações ocidentais desenvolvidas (foco do estudo e análise do BCG), cairá de entre 9 a 15 anos para entre 1 a 5 anos. (Veja o Quadro anterior).

Dada a economia e as tecnologias esperados associadas as bateria, perfil do equilíbrio do custo total de propriedade nos EUA dependerá dos preços do petróleo, do gás e dos incentivos governamentais. Uma série de pesquisas de mercado sugerem que os compradores realmente esperam poder equilibrar com o preço de compra mais elevado dos VEs em dois ou três anos, por meio dos custos operacionais, que são mais baixos para estes veículos.

De acordo com a análise bastante conservadora do The Boston Consulting Group, a fim de que os compradores norte-americanos de VEs possam vir a equilibrar em três anos em 2020, o mercado teria de cumprir qualquer uma das seguintes três condições hipotéticas na íntegra ou então alguma combinação delas, em menor grau:
  • Um preço do petróleo em elevação, passando de de US$ 100 por barril para US$ 300 por barril;
  • Um aumento de 200% nos preços da gasolina causado pela subida dos preços do petróleo, impostos mais altos, ou ambos, ou;
  • 7.500 dólares em incentivos governamentais disponíveis por carro comprado, de acordo com incentivos para veículos elétricos atualmente aprovados.
Na visão do BCG, embora seja improvável que qualquer um destes fatores, por si só, venha permitir que os compradores equilibrem custos em três anos, é possível que alguma combinação destes e afins possam contribuir para prover tal período de equilíbrio. Por exemplo, medidas como taxas de carbono e impostos de congestionamento já estão em vigor nos mercados europeus, não seria irrealista pensar que eles poderiam ser adotadas também nos Estados Unidos, reduzindo assim a necessidade de incentivos sustentadas.

Até 2010, o governo federal brasileiro tinha uma comissão para tratar de um provável o programa para o VE, ligada à Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Mas o fórum não está mais ativo. Enquanto o governo brasileiro simplesmente se resigna, na Anfavea também não há nenhum grupo de trabalho com esse objetivo.

Vale a pena ao consumidor brasileiro pagar mais de R$ 150 mil por um compacto que nem é de luxo? Obviamente que não e as montadoras multinacionais sabem disso. Alias, o consumidor médio brasileiro nem teria como cogitar pagar tal valor. Por isso as montadoras, não lançaram ainda esses modelos no país. “Faltam dois passos básicos: regulamentação de tributos e incentivos”.

No modelo elétrico incide a mais alta carga tributária dos automóveis vendidos no Brasil. O maior dos impostos é o IPI, de 25%, cobrado em modelos de luxo e na categoria “outros” (que abrange os VEs).

Como esses carros são feitos fora do país, há ainda o Imposto de Importação de 35%. Com isso, o Leaf, da Nissan chega aos surreais R$ 190 mil. O valor razoável para atrair demanda seria algo em torno de R$ 60 mil. Na Califórnia, graças a incentivos do governo, o Leaf é vendido por menos de US$ 25 mil.

Fontes do setor confirmam que não há consenso, sobre o tema, entre as montadoras, e isso é óbvio pois, a competição a nível mundial está mais acirrada do que nunca e isso é natural diante das tensas e elevadas apostas exigidas por essa nova oportunidade. O Brasil tem potencial de Lítio e uma fábrica de baterias de íons de Lítio nacional surpreenderia o mundo e nos colocaria em posição de respeito competitivo. Salvo algumas expressões de boas intenções observadas, eu confesso que é difícil a mim acreditar que, de fato, iremos além.

E enquanto que a única fonte de alguma atividade sobre VEs é a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil parece, mais uma vez, disposto a esperar o trem passar, deitado em berço esplêndido, até que algum grande fabricante internacional, algum dia, traga de boa vontade alguma unidade produtora de VEs para cá. Mas sem tradição em fontes próprias de suprimento dos componentes chaves (tais como as baterias de íons de Lítio, os inversores de frequência multinível, os componentes desses e outros), isso ainda deverá demorar bastante, se acontecer.

Não estou aqui sugerindo que ninguém deva tentar fazer o papel de ninguém no contexto do processo produziria a inovação relativa as tecnologias e a economia dos VEs no Brasil, até mesmo porque, eu creio que a coisa só funcionaria, se todos os cinco campos de força que impulsionam uma inovação, fizesse, cada qual, a sua parte.

Olhando para a Dinâmica da Indústria:

Concurso para participação no mercado de baterias de VEs, estimado em 25 bilhões de dólares em 2020 já está em andamento em toda a cadeia de valor da indústria. A rivalidade está, particularmente, interessada na área de fabricação de células, o que reflete a importância crítica de células para o desempenho geral da bateria. No médio e longo prazo, os produtores de células irão desempenhar um papel crucial na definição do equilíbrio de poder - e na maneira como as receitas serão compartilhadas.

A questão chave é, com quem irão os produtores de células unir forças? Dois cenários para a formação de times são possíveis para significativas alianças estratégicas na indústria: em um deles, as montadoras é que forjarão novas alianças com fabricantes de células, e um outro em que se mantem a tradição através da compra de baterias de fornecedores integradores, que, por sua vez, podem forjar suas próprias alianças com os fabricantes de células. (Ver Quadro a seguir).

Forjando novas alianças:

Algumas montadoras já estabeleceram fortes ligações com os fabricantes de células através de alianças ou de participação acionária. Exemplos são a da Toyota com a Panasonic no Japão e da Daimler com a Li-Tec na Alemanha. Tais relações e o acesso exclusivo OEM para o know-how, tecnologia e capacidade de produção da fabricante de células, permite que as montadoras tornem seus veículos diferenciados, em termos de uma tecnologia de bateria escolhida.

No entanto, as relações desse tipo podem limitar a capacidade de uma montadora para reagir rapidamente aos avanços tecnológicos alcançados pelos outros fabricantes de células. Além disso, a exclusividade pode limitar os efeitos de escala e atrasar reduções de custo que sejam resultantes da produção.


Rompendo com a Tradição:

Alguns fornecedores de integração, também, estão se unindo diretamente com os fabricantes de células. Exemplos incluem acordo como o da Johnson Controls com a Saft Batteries nos Estados Unidos e na Europa (parceria já encerrada em Setembro/2011), e o caso da SB LiMotive, que nasceu de uma joint venture entre a Samsung (Coreia Sul) e Bosch (Alemanha).

Relações deste tipo permitem fornecedores de integração aplicar integração automotiva expertise para o negócio de baterias e aos fabricantes de células acesso a uma série de montadoras através de relações estabelecidas.

Para montadoras, este modelo produz menos controle e menos conhecimento detalhado da tecnologia da bateria, mas que lhes permite beneficiar-se dos efeitos de escala alavancando uma base de fornecimento OEM transversal.

Também reduz os seus custos iniciais e os custo potenciais de te que mudar para uma tecnologia alternativa, em caso de uma emergência. Este cenário será de grande benefício para as montadoras, se os padrões de nível de pacote emergirem de forma a permitir flexibilidade na tecnologia das baterias.

Olhando para 2020:

Uma questão chave que vai determinar a evolução da indústria, de acordo com um ou ambos os cenários descritos acima é como as montadoras irão trocar o controle sobre a diferenciação de tecnologia contra a escala e flexibilidade no curto e médio prazo. No curto prazo, espera-se um predomínio de alianças entre as montadoras e os fabricantes de células, enquanto as montadoras continuam a aprender sobre a tecnologia subjacente e tentam garantir uma vantagem competitiva, no início, rapidamente, trazendo soluções exclusivas para o mercado.

Como a tecnologia amadurece e as baterias gradualmente irão se tornar commodities, no entanto, as margens irão cair e a escala será cada vez mais importante, mudando a ênfase das relações mais tradicionais entre os fabricantes de células, integradores e montadoras.

Implicações e Questões para Participantes da Indústria:

Além das montadoras, fabricantes de célula de bateria e de fornecedores de integração, o negócio de baterias de carro elétrico inclui jogadores que são novos para a indústria automotiva. Em um extremo da cadeia de valor estão as empresas químicas e produtoras de componentes das baterias: na outra ponta são os operadores de mobilidade, como Zipcar (que opera um negócio de “partilha de automóveis”, uma alternativa para o aluguel ou posse de carro), e as companhias de energia.

Todos estão enfrentando duros desafios, trabalhando para definir e fixar posições sólidas na cadeia de valor, e todos serão afetados pelo grau em que os governos tomem medidas para estimular o investimento e a demanda. As montadoras enfrentam uma decisão urgente, à luz da atual crise financeira e dos recursos severamente limitados: como alocar seus investimentos em novas tecnologias.

Para responder a esta pergunta. As montadoras devem desenvolver rapidamente know-how de baterias. Vemos isso acontecendo principalmente através de parcerias com fabricantes de células, integradores e empresas de energia.

A medida que as montadoras aprendem, eles estão também se protegendo para evitar ficar travado com fornecedores tecnologicamente ou financeiramente mais desfavorecidos. As montadoras devem considerar as seguintes perguntas:

Qual é a equilíbrio adequado entre a aprendizagem e a gestão de riscos? Este equilíbrio se deslocará a medida que as tecnologias das baterias amadurecem e, em caso afirmativo, quais os principais indicadores que podem existir? Como é que um VE pode ser diferenciado de outros, a medida que a tecnologia amadurece? Quais são as metas de investimento adequados e os horizontes e estão os de nossa empresa alinhados com o das outras empresas do setor? Quanto, a parceria com outras montadoras, irá prover de partilha de risco adequada? O que precisamos dos outros, ao longo da cadeia de valor para o nosso caso de negócio ter sucesso?

Os fabricantes de células enfrentam uma pressão grande e uma tremenda oportunidade. A diversidade de produtos é susceptível de dar lugar a uma reestruturação tecnológica e de custos no curto e no médio prazo, a medida que jogadores com tecnologias superiores ganham contratos e aumentam volumes de produção para diminuir os preços. Espera-se que esses vencedores, ou superem ou adquiram jogadores menores, levando a consolidação da indústria.

Fabricantes de células devem considerar as seguintes questões: O que diferencia a nossa tecnologia para a montadora e para o cliente? Como é que vamos permanecer competitivos em custos a medida que a indústria amadurece? Existem tecnologias competitivas que são complementares à nossa e, em caso afirmativo, como podemos integrá-las? Que suposições sobre o tamanho do mercado deve impulsionar os investimentos?

Os fornecedores de integração estão trabalhando para reter seu papel como um integradores para as montadoras a medida em que as prioridades do setor e os centros de custo convergem em direção às baterias. Eles devem considerar as seguintes perguntas: Qual a melhor maneira se tornar especialistas em tecnologia de bateria? Qual o valor que podemos agregar em favor das montadoras? Como podemos conduzir escala a medida que a indústria cresce? Nós temos competências essenciais que a cadeia de fornecimento dos VEs pode aproveitar?

As montadoras devem rapidamente desenvolver Know-how das bateria, através de parcerias com outras partes interessadas da indústria.

As empresas químicas e produtores de componentes tendem a ver o negócio do VE como representando apenas uma pequena porcentagem de suas receitas globais. Eles acabarão por fornecer materiais ativos, separadores, e outras peças-chave para a fabricação de células, e provavelmente vão preferir usar os fabricantes de células como intermediários, a fim de proteger as suas margens de controle por parte das montadoras e fornecedores de integração. Estes jogadores devem considerar as seguintes questões: Quanto investimento em novos componentes específicos para VEs é adequado? O que é melhor caminho para maximizar os lucros: uma parceria com um único fabricante célula ou vender produtos no mercado livre? Qual deve ser nossa a nossa estratégia de comercialização de novos materiais e componentes para veículos elétricos?

Já, por sua vez, os Operadores de Mobilidade e as companhias de energia estão definindo novos modelos de negócios com base no uso do carro, ao invés de posse do mesmo. Eles podem desempenhar um papel favorável na questão da penetração de mercado dos VEs, reduzindo os custos iniciais dos clientes ou oferecendo soluções para as limitações dos VEs, tais como a sua autonomia limitada e o longo tempo de recarga. Estes jogadores devem considerar as seguintes questões:

O caso da empresa provedora de utilitário reforçam ou degradam a medida que a tecnologia da bateria melhora e os custos declinam? Quão robusta são as diversas opções em potencial de reutilização da bateria? Existem determinados locais ou segmentos de veículos em que um modelo de reutilização serão especialmente atraente? O modelo de negócio mais atraente para a organização que é operar sozinha ou em parceria?

Os governos começaram a assumir a responsabilidade por garantir que as empresas dominem as tecnologia do carro elétrico e de bateria e produzam grandes volumes, suficientes para reduzir os custos. Estes dois passos são essenciais para a viabilidade a longo prazo da indústria, que, por sua vez, é um dos caminhos chave para a redução da dependência em óleo.

Dadas as fortes forças incentivadoras de interesse público e privado, esperamos que haverá apoio governamental suficiente para permitir a indústria a alcançar tanto a maturidade tecnológica quanto a viabilidade de custos. Alcançando esses duas metas industriais, isso irá levar os VEs e os carros de longo alcance (híbridos série) a atingir a quota de 3% a 5% de participação no mercado de automóveis de passageiros nos países desenvolvidos.

O crescimento contínuo do mercado de VEs vai depender de novas tecnologias de baterias e da vontade dos governos, bem como dos padrões de mobilidade e de fatores macroeconômicos, como o preço da gasolina. Os reguladores podem decidir permitir a economia pura (e as necessidades ambientais) a impulsionar o mercado, limitando assim a participação dos VEs, ou eles podem continuar a apoiar o desenvolvimento do mercado, a implementação de subsídios fiscais sustentados e de normas mais estritas para transferir o custo da tecnologia para o consumidor. As decisões desta alçada terá uma influência significativa no mercado de desenvolvimento para além de 2020, nomeadamente sobre o montante do apoio financeiro necessário.

Os Governos devem considerar as seguintes perguntas: Quais são as nossas metas de investimento e horizontes? Devemos apostar em tecnologias específicas ou em partes da cadeia de valor? Como e quando podemos melhor implantar incentivos para impulsionar a demanda de consumo? Como devemos balancear a economia de consumo de créditos para VEs com impostos sobre o veículos de motor a combustão?

O negócios envolvendo os VEs as baterias de íons de Lítio manterão uma promessa de formação de grandes lucros potenciais para ambos, tanto os operadores históricos, quanto os novos jogadores, no entanto, investir nessas tecnologias envolve riscos substanciais. Não está claro as montadoras e os fabricantes de baterias tradicionais ou se novos operadores irão emergir como vencedores, a medida que a indústria amadurece.

Tal como está hoje, o palco está montado para um abalo entre os vários tipos de baterias, tecnologias de tração, modelos de negócios, e até mesmo regiões. Montadoras, fornecedores, empresas de energia e os governos terão de trabalhar juntos para criar as condições adequadas para um grande mercado de VEs viável surgir. As apostas estão altas. Façam as suas!


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