sábado, 23 de abril de 2016

Bicicletas Elétricas (e-Bikes) e Ciclomotores Elétricos (e-Mopeds) - Parte 1/3


Tecnicamente, uma Bicicleta Elétrica (popularmente chamada de e-bike, do inglês Electric Bicycle) é classificada como um Veículo Elétrico Ultraleve. As e-Bikes são, atualmente, bastante utilizadas para o transporte local conveniente, principalmente na China. Projetadas, em geral, para a capacidade de locomover uma única pessoa, as modernas e-bikes partem do conceito da bicicleta tradicional, um veículo de duas rodas (uma na frente e outra na parte traseira) presas a um quadro, sendo movida pelo esforço do próprio usuário (ciclista) através de pedais. 

No princípio os pedais das bicicletas costumavam ser acoplados, diretamente, ao eixo da roda dianteira, mas, antes mesmo do século XX, novos projetos já passavam a incluir a transmissão da energia de movimento (tração) por meio de um sistema empregando uma Corrente em anel fechado e duas engrenagens dentadas (popularmente denominadas Coroa e Pinhão, apesar de tal nominação não ser adequada) e, posteriormente, os câmbios traseiro e dianteiro, responsáveis pela mudança entre engrenagens, causado alteração na relação de dentes, o que resulta na mudança de marcha.


O que houve de novidade nas e-bikes foi que a realização da tração na bicicleta é complementada pela energia elétrica armazenada a partir de uma bateria, convertida em energia cinética por meio de um motor elétrico. Uma bicicleta elétrica carrega baterias que fornecem energia elétrica para um motor que está acoplado a uma das rodas (em geral, a traseira).

Já, as Scooters elétricos, que por vezes também costumam ser classificadas como e-bikes, enquanto elas ainda incluem os pedais (sendo denominadas, este caso, mais especificamente, pelo termo e-Moped do inglês Electric MOtorized PEDal), porém, algum projetos destas também se aproximam mais daquilo que deve ser melhor classificado como (pequena) motocicleta, dispensado os pedais e, isso implica, ainda, em diferenças quanto as questões legais do licenciamento do veículo e das regras de trânsito específicas aplicáveis aos mesmos, as quais ainda costumam variar conforme a jurisdição.

Nos EUA aquilo que referido como uma bicicleta elétrica, ou e-Bike, em geral é definido por lei federal por ter pedais, baterias e motor elétrico de menos de 1 CV, dotando o veículo de uma velocidade (sem pedalar) de o máximo 20 mph (milhas por hora, sendo que, no Brasil, adotamos o símbolo designador mi/h e 20 mi/h corresponde a 32,2 km/h), E-bikes são sem necessidade de seguro ou de registo, sendo requerido, ou não, o uso de capacete, dependendo do estado.

Por sua vez, um Moped (ciclomotor com pedal) é geralmente permitido ter uma velocidade máxima de 30 mi/h (48,3 km/h) com a potência do motor apenas (podendo ir mais rápido se o piloto estiver pedalando ativamente), contudo, mopeds muitas vezes exigem uma carteira de motorista, seguro e alguma forma de registro, além deles não poderem trafegar em calçadas e estacionar em áreas de bicicletas. 

Tal como uma bicicleta tradicional, uma e-bike pode viajar em ciclovias e caminhos e estacionar em áreas de bicicletas. Com base no Regulamento da China, e-bikes não devem ultrapassar o limite de velocidade de 20 km/h.

Independente das classificações e requerimentos legais de cada jurisdição, neste artigo iremos focar, tecnicamente, os princípios e as especificações de engenharia dos Veículos Elétricos Leves com pedais (e-bikes e e-mopeds). As figuras a seguir mostram dois exemplos desses veículos elétricos leves: um em estilo bicicleta e outro em estilo de scooter (moped), típicos e atuais.

Um exemplo típico de e-Bike de passeio moderna de tecnologia avançada, com velocidade máxima limitada a 20 mi/h (sem pedalar, ou, apenas com a força de seu motor elétrico).
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Um ciclomotor com pedal (e-Moped) clássico. Este modelo apresenta velocidade máxima de até 22 mi/h e autonomia de até 37 milhas (em uma única carga da sua bateria de íons de lítio).

Uma bicicleta elétrica, quando configurada como uma e-bike de montanha (mountain e-bike) pode viajar em trilhas fora de estrada (off road), enquanto um ciclomotor elétrico (e-moped) não pode, uma vez que eles são projetados, especificamente, para as ruas das cidades, enquanto que as motocicletas elétricas off-roads (todo-terreno ou Fora de estrada) especialmente projetadas para competições de motocross não possuem pedais de tração e, portanto, não fazem parte do escopo deste artigo. Um exemplo de mountain e-bike pode ser visto a figura ao seguir.

Não se preocupe, você ainda vai ter que colocar uma grande quantidade de esforço de subir as colinas íngremes, mas, a suspensão de longo curso completa e o sistema de acionamento elétrico se juntam para formar o melhor bicicleta para aqueles que querem ir para cima e para baixo em off-road.

Na maioria das bicicletas elétricas e ciclomotores elétricos a pedal, o ciclista / piloto pode optar por usar a sua força muscular para entregar toda, parte ou nada da potência de propulsão necessária para manter uma velocidade de deslocamento adotada. Alguns modelos ainda podem "sentir" a pressão no pedal e comandar o motor para entregar mais potência sempre que a locomoção exige mais torque (quado pedalar exige mais esforço).

Os principais componentes de uma e-bike / e-moped incluem o motor, o controlador e a bateria, que são, também, os três componentes críticos de seus projetos, o qual não é tão simples como algumas pessoas possam pensar. Não obstante o fato que um estudos mais completos (e exaustivos) sobre a Geometria e Cinemática, e sobre a Dinâmica da Bicicleta possam interessantes, nós vamos manter o foco em avaliar como os novos componentes que as tornam em e-bikes (o motor, o controlador e a bateria) interagem e afetam com o restante da bicicleta, omitindo uma série de outras consideração sobre a dinâmica dela, uma vez que não estamos a reinventá-las.

Mesmo se você já comprou uma e-bike comercial e, posteriormente, decidir que quer melhorá-la, isso pode não ser uma tarefa e, dependendo daquilo que você quer melhorar (velocidade, torque ou autonomia), você poderá acabar descobrido que sairia bem mais em conta começar do zero e construir uma bicicleta elétrica através da conversão de uma bicicleta de montanha que você tem na garagem que ninguém está usando.

Isso ocorre porque as especificações dos três componentes críticos (o motor, o controlador e a bateria) se encontrar amarrados em compromisso, interdependentes e interligados entre si quado da preparação da e-bike e, se você não puder mudar todos os três componentes, em conjunto, a sua e-bike provavelmente não terá um impulso de potência extra (algum torque extra, ou velocidade extra).

Neste caso, sem gastar demais, o máximo que você seria capaz de fazer seria trocar o seu pacote de bateria por um outro que seja feito com o mesmo arranjo de células, contendo células de mesma tesão nominal, porém com uma maior capacidade nominal (capacidade de armazenar quantidade de energia) o que pode lhe proporcionar alguma autonomia (alcance de locomoção) extra, mas não velocidade ou torque (potência extra).

Além do mais, mesmo para fazer isso, você precisaria se referir aos requerimentos que são premissas do projeto de uma e-bike qualquer para repor o seu novo pacote de baterias:
  • O corpo da bicicleta completa deve ter a menor massa possível. Toda a massa do corpo da bicicleta deve ser possível para ser rebocada (tracionada) ladeira acima, com a utilização da energia fornecida exclusivamente pela bateria. Possuir uma massa menor é, justamente, o que proporciona uma maior autonomia de locomoção (distancia que pode ser percorrida pelo veículo entre uma e outra recarga da bateria).
  • A estabilidade de bicicleta é outro requisito importante. A massa total não afeta, necessariamente, a estabilidade, mas a disposição (a distribuição) da massa ao longo do corpo é muito importante, tanto com relação a distribuição entre dois eixos, mas principalmente, com relação a altura da colocação dele, o que afeta o centro de gravidade do corpo da bicicleta
Embora o número de componentes de uma bicicleta seja (relativamente) pequeno, a interação entre eles e os princípios dinâmicos envolvidos não são tão simples quanto parecem, o que torna a Física da Bicicleta em um tema amplo e complexo. Isso é especialmente verdadeiro com referência à estabilidade da bicicleta, que é a consequência de uma interação complexa dinâmica dentro do sistema bicicleta-piloto.

Apesar de eu pretender me estender apenas um pouco mais para tratar, especificamente, do assunto evolvendo "Forças e Potências", pois isso é fundamental para podermos, posteriormente, definir um motor, eu recomendo para aqueles que desejem obter um conhecimento mais aprofundado sobre o tema, que sigam o linque para um página (em inglês) que trata o tema "Física da Bicicleta" de modo bem mais abrangente.

Bicicleta Elétrica em Aclive - Potência Necessária para Desenvolver o Torque nas Rodas


A figura ao lado mostra a situação de uma bicicleta indo ladeira cima, em um ângulo de inclinação Φ, e com uma velocidade V, onde a força da gravidade g é a força resistente mais importante (porém não a única), opondo-se ao movimento da bicicleta: A transmissão do movimento é efetuada por corrente entre a Coroa (engrenagem maior) em cujo eixo se acoplam os pedais e o Pinhão (engrenagem menor) com eixo concêntrico à circunferência da roda traseira da bicicleta.

Para impulsionar a bicicleta em aclive o piloto deve empurrar para baixo sobre os pedais. Os pedais são deslocados em um desfasamento de 180 °, o que significa que apenas um pedal pode ser empurrado de cada vez, a partir da posição máxima superior para a posição máxima inferior, que são, justamente, os pontos no ciclo de pedalada, onde ocorre a comutação da força aplicada pelo piloto a partir de um pedal para o outro pedal.

Isso significa que, em condições normais, um ciclista emprega, efetivamente, a força de uma única perna de cada vez, e a força da pedalada é resultante de duas diferentes forças, mas, que ocorrem alternadamente (ora da ação da perna direita, ora da esquerda).

Entretanto, com o emprego de algum tipo de dispositivo adequado para prender os pés do ciclista aos pedais (pedal clipe ou conjunto sapatilha-taquinho-pedal), este cenário se altera, permitindo um maior aproveitamento da sua energia, com emprego das duas pernas ao mesmo tempo (uma empurrando e a outra puxando o seu respectivo pedal). Assim, a força da pedalada aumenta, pois ela passa a ser resultante de duas forças que ocorrem simultaneamente.

A próxima figura representa um destaque a partir da figura anterior, em que aparecem, apenas:
  1. Do lado do eixo que é fonte de energia para o movimento:
  • a coroa, de raio R2, que traciona a corrente com a força F2, com energia que ela capta a partir do;
  • o braço de alavanca, constituído pelo pedal, de raio R1, que se encontra acionado pela força de pedalada F1, e;
  1. Do lado do eixo que é consumidor da energia para o movimento:
  • o pinhão, de raio R3, acionado pela força F3 provida pela corrente;
  • o braço de alavanca de raio R4 que representa a transferência do torque desde o centro do eixo para a borda da roda (traseira), enquanto a força de tração F4 é exercida entre a roda e o chão da pista de rodagem.

Deste modo, dada um força F1 atuando sobre os pedais (força da pedalada), nós podemos, com relativa facilidade, calcular a força resultante F4, que equivale a força de tração entre a roda e o solo, para, em seguidas, realizar uma análise de torque com boa precisão baseado na suposição de que a aceleração (linear e / ou angular) é insignificante, ou seja, que a massa da bicicleta ou está sendo mantida parada, ou, então, está se ​​movendo a uma velocidade constante. Assim, podemos tratar isso como um problema estático.

A tração exercida entre a coroa e o pinhão se dá por meio da corrente, a qual se encontra otimamente engatada aos dentes daquelas engrenagens, para que ali não haja qualquer deslizamento, e consequente perda de energia, de modo que, em condições normais, para todos os casos, podemos escrever:

F2 = F3

F4 é a força que atua no contato da roda traseira com o solo, e vamos supor que podemos ignorar perdas de energia por deslisamento, contudo, para isso, o coeficiente de atrito estático entre a roda e o chão deve ser grande o suficiente para suportar essa força, caso contrário, o deslizamento, de fato, ocorre, causando perda de energia. Relembrando que Torque (também chamado Conjugado) é igual a Força x Braço de Alavanca (no caso de dúvidas, consulte: Conjugado, Potência e Velocidade em Máquinas Elétricas), usando o pressuposto do equilíbrio estático, podemos escrever as seguintes equações de torque:
  1. Do lado do eixo que é fonte de energia para o movimento:
F1 · R1 = F2 · R2

F2 = F1 · R1 / R2
  1. Do lado do eixo que é consumidor da energia para o movimento:
F3 · R3 = F4 · R4

F3 = F4 · R4 / R3

Desde F2 = F3, podemos combinar as equações acima para dar uma expressão para F4:

F4 · R4 / R3 = F1 · R1 / R2

F4 = F1 · R1 · R3 / (R2 · R4)

A força F4 é o que impulsiona a bicicleta para a frente. Se assumirmos que a bicicleta está se movendo a uma velocidade constante (sem aceleração), então a força F4 é igual à somatória das forças que resistem opostas movimento da bicicleta. Estas forças de resistência são, além da força da gravidade, também, a força de resistência ao rolamento dos pneus sobre o solo, a força de resistência do ar e a força de atrito dos rolamentos interiores à bicicleta. Se desprezarmos esse último item, então podemos escrever a seguinte expressão matemática:

              =>             F  =  m·g·sen Φ  +  Cr·m·g·cos Φ  +  1/2·Cd·ρ·A·v2

onde:
  • F é a força propulsora da bicicleta para ela se mover adiante no aclive. Note-se que F ≡ F4;
  • A primeira parcela (m·g·sen Φ) corresponde a força de oposição da gravidade, onde g é a aceleração devido à gravidade à superfície da Terra (9,81 m/s²). Repare que está parcela será tanto maior quanto maior for o valor de sen Φ, ou seja, quanto mais acentuado for o aclive;
  • A parcela (Cr·m·g·cos Φ) é a força de resistência ao rolamento, onde Cé o coeficiente de resistência ao rolamento, que, segundo Rolling resistance coefficient examples, pode ter um valor desde 0,0022 ate 0,005 para pneus de  bicicleta comuns de produção, em condições normais de pressão de ar em seus interiores e de velocidade de tráfego;
  • A parcela (1/2·Cd·ρ·A·v2) é a força de resistência do ar, onde Cd  é o coeficiente de arrasto, ρ é a densidade do ar através da qual a bicicleta está em movimento, A é a área da seção transversal projetada da bicicleta + piloto (Área frontal), que é perpendicular à direção do fluxo de ar (isto é, perpendicular a v), e v é a velocidade da bicicleta em relação ao ar.
Para o caso de superfícies planas (sem inclinação) definimos Φ = 0° e, devido a isso, a contribuição da oposição da força da gravidade desaparece, simplificando a equação:

F = Cr·m·g·cos Φ + 1/2·Cd·ρ·A·v2

Já, para o caso de querermos determinar Potência (P) em vez de Força (F), basta multiplicar as força pela velocidade 2, pois:


ou seja, para uma pista em aclive:

P = F · v = m·g·sen Φ·v + Cr·m·g·cos Φ·v + 1/2·Cd·ρ·A·v3

Ou, para pista plana:                                  P = Cr·m·g·cos Φ·v + 1/2·Cd·ρ·A·v3

Avaliar a Potência (P) requerida para impulsionar a bicicleta é fundamental, antes de definirmos um motor adequado a ela; Para uma dada Potência (P) e uma dada velocidade (v), um certo valor de torque é definido, e também pode ser calculado. Contudo, para todos esses cálculos e avaliações é preciso se tomar muito cuidado com relação às Unidades de Medida com as quais se está operando.

Em virtude da diversidade de unidades de medida utilizadas, seja para expressar valores da potência, da velocidade, ou do torque, quando realizamos os cálculos, devemos observar cuidadosamente as conversões entre as unidades de medida, aplicando, sempre, os ajustes adequados, que se fazem necessários, de acordo com as unidades de medida empregadas nas grandezas dadas, para se chegar ao resultado correto, expresso na unidade de medida desejada (em caso de dúvida, veja a seção titulada "Exemplos de Conversões de Unidades de Medidas para Cálculo de Transmissão de Conjugado, Potência e Velocidade de Rotação" no artigo deste blog "Conjugado, Potência e Velocidade em Máquinas Elétricas".

Nós também podemos resolver a velocidade final de uma bicicleta, quando ela está se movendo para baixo em uma ladeira com determinado ângulo de inclinação de Φ. Neste caso, como o piloto não exerce qualquer força nos pedais, temos F ≡ F4 = 0. Então, a força da gravidade deve equilibrar as forças de resistência devido a ambos, a força de resistência ao rolamento e força de arrasto do ar. Assim, podemos resolver a velocidade (v) final de uma bicicleta, isolando a variável v, partindo da seguinte equação:

m·g·sen Φ = Cr·m·g·cos Φ + 1/2·Cd·ρ·A·v2

Naturalmente, quando andando de bicicleta queremos manter as forças de resistência de oposição ao movimento em valores tão baixos quanto possível. Isto é conseguido mantendo os pneus bem pressurizadas (o que minimiza a resistência ao rolamento) e manter a Área frontal (A) tão pequena quanto possível para reduzir o arrasto de ar, especialmente quando se viaja a altas velocidades, tal como numa corrida.

Tipicamente, a resistência ao rolamento é muito mais elevada do que a resistência do ar; Assim, reduzir a superfície frontal (A) não é algo muito importante para o piloto comum, que se desloca a velocidades moderadas, mas cresce coim o aumento da velocidade de operação da bicicleta.

O Que Virá em Seguida (Nesta Série de Artigos)


A partir de um certo ponto do próximo artigo dessa série nós passaremos a focar, mais especificamente, as e-bikes (bicicletas elétricas), deixando de lado os outros tipos possíveis de Veículos Elétricos Leves dotados de Pedais. Faremos essa escolha, simplesmente, porque ela é, tecnicamente, a que poderá nos reder um mais ricamente interessante e abrangente assunto para ser discorrido e aprendido (ao menos essa é a minha opinião).

Apesar de para alguns ela parecer uma máquina bastante simples, a Física da bicicleta é relativamente complexa e abrangente. Também é preciso considerar que na operação dela, a bicicleta e o corpo do ciclista interagem formando único sistema de massa (mesmo que parte dele seja rígido e inanimado e parte seja flexível e vivo). Já, numa e-bike, também as pernas do ciclista e o motor elétrico interagem de modo a adicionar as potências que ambos entregam para compor uma única saída do sistema, que resulta na tração da roda na pista.

Conhecer alguns aspectos pertinentes ao corpo (e a mente) humana é algo interessante ao se estudar o que ocorre na operação da bike, principalmente ao se avaliar o que ocorre na transição de passagem de uma pista plana normal, para uma pista plana com inclinação positiva (um aclive). Ao ir atrás de pesquisar sobre isso (por ocasião de escrever esta série de artigos) e percebi que, infelizmente, a Ciência Biológica ainda pode ser considerada uma ciência bastante inexata (e de difícil compreensão), por conta da inconsistência que há na definição dos termos das grandezas que ela estuda.

Assim como na Biofísica do corpo humano, também no cotidiano de outras áreas do conhecimento, frequentemente, termos como, por exemplo, Força, Potência e Energia acabam sendo usados até mesmo como sinônimos, mas, em Física, os nomes das Grandezas Físicas têm, cada qual, o seu significado bastante estrito, de modo que Força, Potência e Energia são nomes adotados para gradezas físicas distintas, e não podem ser confundidos,

Caso contrário, não se atinge formular as images de visão espacial que são necessárias aos processos cognitivos que levam a uma adequada compreensão dos fenômenos da Física. Em Física, até mesmo a palavra "fenômeno" difere de significado, estando ela ligada a mera realização de regras (ou leis) naturais, em vez de ligada a coisas que sejam exceções, ou que sejam surpreendentes ou sobrenaturais.

Assim, o leitor que quer, de fato, compreender a Física das máquinas precisa estar disposto a aceitar tudo aquilo que foi convencionado em Física, com cada nome sendo empregado em seu devido lugar (de modo exato e sem confusões).

Um outro exemplo de nomes de grandezas que são frequentemente confundidos é o caso de Torque e de Força, que, apesar de, deveras, estarem associadas, são, porém, distintas. Um outro caso que as pessoas pouco se preocupam em vislumbrar a sutileza da diferença das quantidades, é quando há a conversão de velocidade angular para velocidade linear.

Assim, mantendo a linha editorial correte deste blog, precisaremos tratar um pouco disso, também, na próxima postagem, evidentemente que em meio a outros novos assuntos, como por exemplo, uma visão relativamente bem detalhada do sistema de transmissão multivelocidades da bicicleta (pois este assunto também será útil, em maior ou menor grau, dependendo de como nós integraremos os motores elétricos das e-bikes, aos sistemas das bicicletas tradicionais).

Até mais.

Notas:


  1. Em Física, Trabalho de uma Força é a medida da Energia que é transferida (em Física, "Trabalho" é "Energia Transferida" e, “Realizar Trabalho” é o “Ato de Transferir Energia”) para um corpo, em razão da aplicação de uma Força ao longo de um Deslocamento. Assim, é possível calcular a Potência baseado na Força e na Velocidade. Como o Trabalho é igual a Força vezes Distância, e assumindo que a Força atua na mesma direção do deslocamento ao longo de todo o trajeto, você pode escrever a equação para a Potência da seguinte forma:

         Onde s é a distância percorrida. No entanto, a velocidade v do corpo é, simplesmente, dividido por t, pelo que a equação se recompõe em:


         Isso é um resultado interessante: A Potência é igual a Força vezes a Velocidade! Sim, isso é o que diz. No entanto, porque muitas vezes tem que se levar em conta a existência de eventual aceleração (ou desaceleração) quando se aplica uma força ao corpo (o que torna a velocidade do corpo variável ao longo do tempo), você geralmente escreve a equação em termos de velocidade média e, por conseguinte, em potência média.


         No caso em que a Força atua ao longo da uma direção diferente do trajeto do deslocamento, como no exemplo representado na figura a seguir, se torna mandatário tratar as grandezas envolvidas como grandezas vetoriais (ou, simplesmente, vetores), de modo que a quantidade a ser considerada para essas grandezas não é definida apenas pela magnitude, mas, também, pela direção. Dai:



Veja Também:





Como se Constituem e Operam os Motores CC Sem Escovas (Motores BLDC) - 1/2


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Tesla Model 3: Quem está comprando o novo carro de Elon Musk?

A demanda para o novo veículo "acessível" está impressionando de tão elevada, contudo, ainda assim, alguns não acreditam que já chegou a hora dos Veículos Elétricos "emplacarem".


O Tesla Model 3 está definido para ser o carro mais acessível da Tesla Motors
Ainda que (enquanto eu começo a escrever esse artigo) o impressionante número de mais 325.000 pretensos proprietários já tenham realizado os devidos depósitos de US $1.000 (ou de valores correntes equivalentes), com 270.000 deles o fazendo em um período de apenas 3 dias, a fim de garantirem suas futuras aquisições de uma unidade dele, o "acessível" Tesla Model 3 não estará presente nas estradas e avenidas antes do final de 2017.

Para os que desconhecem a história da Tesla Motors, que começou em 2008 com o lançamento de seu primeiro veículo elétrico, o Tesla Roadster (atualmente já fora de linha), e prosseguindo, até aqui, totalmente voltada para a fabricação de carros desportivos e de luxo, é importante ressaltar que, mudando o público alvo, o novo carro Tesla Model 3 está definido para ser o carro de custo mais acessível da Tesla Motors.

Já, quanto ao lançamento do Model 3, podemos observar que o mês de Março/2016 revelou aquilo que foi apenas a "Parte 1" de uma introdução passo a passo do novo carro, com a ocasião para a realização da "Parte 2" ainda a ser definida pela Tesla. Não obstante a isso, na data de 15/04/2016 (enquanto eu faço a última revisão dessa postagem), a campanha de pré-venda do Model 3 bate a impressionante marca de 400.000 unidades encomendas.

Contudo, detalhes importantes foram revelados, como, por exemplo, a de como o carro se parecerá, e também a sua (muito boa) autonomia, que será de 215 milhas (ou 346 km), informações que foram suficientes para conduzir a enormes números de pré-encomendas (grandes o suficiente para a Tesla proclamar este como sendo o seu lançamento de produto mais bem sucedido desde sempre).

Assim, muitos já passam a referenciar o Model 3 (que está cotado para ser vendido a US $ 35.000) como o carro que vai, finalmente, trazer automobilismo elétrico para uma competição de mercado muito mais agressiva com relação aos veículos com motores a combustão interna (mas nem todos ainda estão convencidos disso).

De acordo, por exemplo, com um artigo do Economic Times, enquanto a demanda para o Modelo 3 já é alta, ao que parece a clientela continua sendo constituída, predominantemente, pelos chamados "early adopters" (uma pessoa que começa a usar um produto ou tecnologia, assim que ela se torna disponível), ou os "tech-savvy" (tecnologicamente esclarecidos e ambientalmente conscientes), que vêem a Tesla como uma marca inovadora que atende às suas necessidades e expectativas tecnológicas e ambientais.

Eu, particularmente, fico aqui matutando se isso tudo (críticas que eu ouço sendo repetidas desde 2011), não é, tão somente, uma forma enciumada e pejorativa de tratar o caso (lembrando que o mesmo ocorreu, a seu turno, com o I-Phone da Apple).

As especificações do carro são importantes para atrair os compradores, mas a "imagem tech" da marca (Tesla) é um fator de atração enorme para os clientes, acrescenta o referido artigo, apontando os sucessos de seu presidente-executivo Elon Musk nos casos dos foguetes, com a sua outra empresa, a SpaceX (ver, também, artigo da TecMundo sobre isso) e outros interesses da era das internet, tais como o PayPal, a jogar contra a imagem de outras montadoras tradicionais de veículos.

O artigo diz, ainda, que mudança de clientela das vendas a partir dos clientes "tecnologicamente esclarecidos", para a multidão de "pessoas normais" deverá demandar, ainda, um grande esforço, e que conquistar entusiastas já rendidos à tecnologia é fundamentalmente diferente, do que ter que convencer os consumidores mais tradicionais.

Já, num outro artigo, da Sci-Tech Today titulado "Apesar da campanha publicitária para o Tesla Model 3, as vendas de Veículos Elétricos estão longe de serem robustas", ela diz que as vendas de carros elétricos (especialmente da nativa americana Tesla), continuam a ser uma "gota no oceano" e poderão continuar a ser por algum tempo, dependendo da rapidez com que a tecnologia de baterias progride.

Por sua vez a Auto World News chama para a Tesla a responsabilidade por algum eventual maior fracasso no futuro dos Veículos Elétricos, afirmando que "a Tesla precisa atingir um momento pleno" com o Model 3, e quaisquer problemas com o lançamento, tais como os atrasos que têm assolado outras ofertas da empresa, poderia "erradicar a previsão positiva e futuro sólido" do novo carro e sua grande base de fãs, dificultando qualquer esperança de um cruzamento (dos veículos elétricos, de maneira geral) em direção a competição mais agressiva com o mercado dos tradicionais.




Tesla revela Modelo 3


O fato é que não obstante as críticas, o presidente-executivo Elon Musk apresentou o novo carro elétrico em um evento em Los Angeles em 31 de março e desde então tem repetidamente levado para o Twitter para compartilhar atualizações sobre como ele foi recebido. Sua última mensagem ele afirmou que todas as pré-encomendas deverão se traduzem em vendas, e que a Tesla vai investir o valor de US $ 14 bilhões no Model 3 ao longo dos próximos anos.



A Tesla orgulhosamente tem alardeado que o lançamento do Model 3 é o pontapé inicial que eleva os veículos elétricos ao patamar de carros elétricos como uma opção corrente principal do mercado, e que, em apenas uma semana "se tornou o único grande lançamento dentre quaisquer outros produtos, desde sempre".

Entretanto, a Forbes está cética, notando que a empresa tem uma estrada rochosa à frente dela para entregar, com sucesso, na histeria em massa em torno do carro. Caso a empresa venha a apresentar problemas de produção, diz ela, os seus novos clientes podem ser menos tolerantes com os eventuais atrasos, do que foram os clientes da sua base de consumidores mais ricos, atuais usuários dos carros Model S e Model X.


No entanto, Forbes diz Tesla pode se orgulhar da propagação orgânica de interesse no veículo, dizendo que a popularidade do carro foi conduzida por "um verdadeiro esforço de base", sem ter anúncios ou endossos marcando o seu lançamento.


De acordo com Carscoops, o Model 3 "quebrou a internet, mesmo sem ser um item acabado" e considerando que a maioria dos compradores potenciais não receberá seus carros por (quase) dois anos, mesmo esse termo é um eufemismo. O site também tem revelou um dos primeiros vídeos do carro em ação - um Model 3 de cor prata nas ruas durante as filmagens, o que é provável que seja o material promocional Tesla. 




Tesla Model 3 Spotted Real Live Footage HD 720p 2016


É ainda desconhecido quando "parte 2" da revelação do Tesla Model 3 terá lugar, mas a Revista The Week avalia que seja muito provável que algumas revisões de design poderão ainda acontecer, entre agora e depois, especialmente dentro da cabine.

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO DE NÚMEROS:
Tesla Model 3 já alcança 373.000 reservas feitas até 15 de maio de 2016 (após verificados 8.000 cancelamentos e eliminados 4.000 pedidos duplicados)


O Chefe da Nissan Saúda a Tesla e o seu Model 3




O presidente-executivo da Tesla, Elon Musk tem rotineiramente convidado (ou melhor, desafiado) outros fabricantes para construir um carro elétrico melhor em uma tentativa de impulsionar a competitividade do setor. Agora, um de seus maiores rivais retornou o favor.

"A Nissan está torcendo pela Tesla", disse à Business Insider,  o chefe da Renault-Nissan Carlos Ghosn, depois de saudar a "boa competição" que o Modelo 3 da Tesla irá proporcionar.


Globalmente, "a Nissan lidera afastada na competição de vendas em veículos elétricos", acrescenta o site. Sua aliança com a Renault produziu 302.000 unidades de veículos elétricos que se encontram em locomoção, no mundo todo, apenas durante o ano de 2015, sendo 43.700 deles do modelo Nissan LEAF que, desde o seu lançamento em 2010, já vendeu um total de 211.000 unidades.


Reparem que todos os números mostrados no parágrafo acima são bem menores do que o número de entregas que a Tesla já está compromissada em realizar do novo Model 3 (e só a partir do fim do ano que vem), porem a Tesla vendeu pouco mais de 100.000 veículos, todos "de luxo", na vida toda da empresa.





Por seu turno, o Vice-presidente da Tesla Diarmuid O'Connell, citando o presidente-executivo Elon Musk, acrescentou que Tesla tem um plano para o aumento da produção, e que transformou (anteriormente) os últimos surtos de demanda em um positivo 
de entrega , dizendo que a experiência de construir os Model S e Model X torna a produção Model 3 mais fácil.


Ghosn está posicionando os VEs como um dos pilares de uma futura estratégia corporativa da Renault-Nissan e vê, unicamente, como boa notícia a hiper enorme demanda para o próximo veículo de produção da Tesla. "Lançamentos como este só vão dinamizar o desenvolvimento dos carros elétricos e de infra-estrutura para VEs", diz ele. "Finalmente, uma boa competição para VEs está pegando".

A Nissan pode ter algum trabalho a fazer, no entanto, diz a Electrek: No Reino Unido, o LEAF começa com um preço a partir de cerca de £ 25.000 (antes de incentivos do governo), ou seja, apenas £ 5,000 mais barato do preço do Modelo 3, quando esse vai à plena venda no fim próximo ano, mas permanece, atualmente, em área-chave.


Apesar de uma recente atualização ampliando sua autonomia para 155 milhas (250 km), o Nissan LEAF encontra-se muito atrás da faixa de autonomia de 215 milhas especificada para o Tesla Model 3. Como tal, o site sugere que um novo Nissan LEAF deva vir para 2017, possivelmente equipado com uma bateria melhor, que garanta uma autonomia de (quem sabe) umas 200 milhas (eu, particularmente, também creio nisso, porém, para acontecer só em 2018).

Apesar do lançamento do Model 3 estar recebendo louvor até mesmo de rivais chave (como a Nissan e a Mercedes-Benz), ao menos um concorrente está se sentindo prejudicado: a General Motors chama a atenção sobre a sua própria oferta, o Chevrolet Bolt EV, que deve chegar às estradas ainda este ano, e que seria o primeiro VE de longo alcance acessível ao mercado e que "não é necessário depositar os $ 1.000 e esperar pelo final de 2018, ou até algum tempo depois disso", fazendo uma referência ao tempo de espera do Model 3.

Chev Bolt ano modelo 2017 na linha de montagem da fábrica da GM de Orion Township em Março de 2016

Uma verdade que poucos gostam de falar as respeito é que, justamente os chamados "early adopters" e "tech-savvy" são um público que tem um elevado grau de desconfiança (e, portanto de rejeição) contra a GM naquilo que concerne ao que eles supõem ser as reais intenções dela dentro do mercado dos VEs (lembrando que a mesma empresa já traiu, grandemente, este mercado, ao menos uma vez, no passado. Veja Quem Matou o Carro Elétrico?)

Atualização:


O Tesla Model 3 foi listado em 2018 como o carro plug-in mais vendido na Califórnia, nos EUA e no mundo (seguido pelo Nissan LEAF, Chevrolet Bolt EV e Tesla Model S). É uma pena que, até 2017, eu já tenha dito tudo o que eu queria dizer, sobre todos esses 4 VEs, principalmente sobre as tecnologias deles, em meu blog.



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