domingo, 8 de julho de 2012

Quem Matou o Carro Elétrico?

Em todas as postagens feitas neste blog, até aqui, prevaleceu sempre o cunho técnico e tecnológico das abordagens. De fato, esta continuará sendo a linha temática por aqui, todavia, vez ou outra, precisaremos fazer abordagens em contexto nem tão técnico e até mesmo falar um pouco de política, tratar de relacionar e de entender as forças que fazem despertar, ou fazem destruir, os sonhos da humanidade.

Parece que a ferida já é antiga, talvez fosse bom não tocá-la, mas convém lembrarmos sempre "de onde viemos", se quisermos ter uma boa consciência de "para onde vamos". Em 1996, pensando em reduzir o efeito dos gazes estufa, o governo do Estado da Califórnia exigiu, por meio legal, que as montadoras fabricassem uma pequena porcentagem de carros que não emitissem poluentes, isso queria dizer, produzir carros elétricos.

Diante disso, então, as montadoras de veículos automotores, notadamente as norte-americanas, se focaram em duas linhas de frente:

1. Fazer o carro apenas para cumprir a lei,
2. Derrubar a exigência legal através da ação de lobistas.

Conseguiram fabricar o carro, a exemplo dos EV1 da General Motors, que foi a primeiro veículo elétrico moderno lançado no mercado e produzido por uma grande empresa automobilística. O EV1, foi, a seu tempo, o carro elétrico mais rápido e mais eficiente, até então, já construído. Funcionava totalmente à base de eletricidade. Além de não emitir poluentes, colocou, na época, a tecnologia dos EUA no topo da indústria automotiva. Todavia, muitas pessoas, empresas e instuições ficaram realmente incomodada com aquele projeto.

Por fim “eles” conseguiram, primeiramente derrubar a lei e, então, obrigaram os usuários (inclusive, entre eles, celebridades como Tom Hanks e Mel Gibson) a devolver os seus veículos elétricos e todos aqueles carros recolhidos foram, então, destruídos (salvo algumas poucas unidades que foram parar em museus).

Você consegue ter idéia da razão dos interesses que estariam por trás de destruir os melhores carros elétricos até então construídos? Especialistas, consumidores, ambientalistas, políticos, diretores envolvidos e até estrelas de cinema deram suas versões no documentário: “Quem Matou o Carro Elétrico?” é a verdadeira autópsia que revela os culpados deste crime contra a humanidade e a tecnologia. 

O filme mostra e esclarece, derrubando todos os mitos gerados pro interesses corporativos. Um fato interessante revelado é que os carros elétricos da GM, daquele período, não foram vendidos, ou mesmo financiados aos consumidores, mas sim, postos em LEASING, ou seja, o usuário pagava uma mensalidade pelo uso e ao final do prazo de contrato teria a opção de compra.

O cenário analisado no documentário centrou-se na realidade dos EUA, e foram listados possíveis suspeitos pela morte do carro elétrico, entre eles: os próprios consumidores americanos, a ainda incipiente tecnologia de baterias, a absoluta voracidade das companhias petrolíferas, o despreparo das montadoras, a falsidade do governo americano, a instituição California Air Resources Board e a sua tecnologia do hidrogênio (em células a combustível).

Cada um destes foi dito ter um grau de culpa na época em que a tecnologia dos carros elétricos foi temporariamente abandonada. É bom ressaltar que o carro elétrico em questão, erta um veículo puramente elétrico, um modelo exclusivamente centrado em baterias, e não em protótipos híbridos ou de hidrogênio, conceito que a Nissan resgatou e, assim, tem tornado o Nissan Leaf em padrão mundial nos dias de hoje.

O que fica resaltado ao final desse documentário é que mesmo o carro elétrico não sendo a solução para todos os problemas (não teria sido na época e continua não sendo hoje), foi muito estranha, louca mesmo, a atitude da General Motors em recolher e destruir todos os carros do modelo elétrico EV1, negando a opção de compra aos usuários.

É verdade, a tecnologia de baterias daquele momento não mostrava-se ainda totalmente pronta para substituir o motor a combustão interna. Para poder oferecer potência e autonomia razoáveis, os primeiros GM EV1 (1997), que tinham baterias de chumbo-ácido, cujo pacote pesava os incríveis 1175 kg. Esse foi um erro inicial do projeto, mas logo corrigido pela GM nos modelos posteriores, já com baterias níquel-hidreto metálico (1999), pesando agora bem menos, 481 kg, uma feito tecnológico verdadeiramente fantástico para a época, mas que encareceu o preço do carro, do valor estimado de US$ 33.995,00 (1997) para o também estimado valor de US$ 43.995,00 (1999). Ainda assim, ele continuava sendo viável ... 

Qualquer um que hoje fizer a comparação de parâmetros, entre o GM EV1 de 1997 e de 1999, constatará que ele, em apenas dois anos, ele havia evoluído bastante e que estava em curso o acerto de um excelente carro. Hoje, passados mais de 13 anos, o peso do pacote de baterias do Nissan LEAF, baseado na tecnologia construtiva de Íons de Lítio, ainda é de 300 Kg e provavelmente, em termos de peso, algo em torno desta marca deverá pemanecer por algum tempo na história dos EVs, priorizando a evolução da dendidade de energia das células da bateria.

É verdade que, naquele período, a GM foi a empresa montadora de veículos que mais realizou em prol do avanço da tecnologia dos veículos elétricos do que qualquer outra, só que, de forma lamentável, o sonho foi interrompido por ela mesma, e ela tornou-se a empresa que "matou o carro elétrico", destruindo-os, literalmente. Isso, a história custará a perdoar e agora, na segunda bolha do carro elétrico a GM correrá o risco de ter que “pagar caro pelo seu erro” e a cultura norte-americana poderá ter décadas para lamentar, profundamente, ter perdido a primazia no projeto e produção dos carros elétricos (pelo menos por algum tempo) para os japoneses.

Uma ocorrência curiosa sobre o GM EV1 ocorreu em 2008, quando um site canadense veiculou um anúncio de venda, que envolvia um GM V1 remanescente. O proprietário, que era residente na Columbia Britânica, apresentava um EV1 que estava em perfeito estado de conservação, apesar de já ter rodado 142.500 km. Ele alegava, ainda, que a GM estava atrás desse carro, fazendo ofertas para adquiri-lo, mas ele afirmava ter preferência em vendê-lo, para algum colecionador e pedia a oferta inicial de US$ 75.000. Dias depois o anúncio aparecia como VENDIDO … por US$ 465.000.

Hoje, está mais que provado que os carros elétricos são mais fáceis de se projetar do que os antigos carros convencionais, tendo basicamente apenas uma parte móvel. Não há embreagem, engrenagem, mudanças de óleo, verificação de emissão (penso que talvez a Controlar e Prefeitura de São Paulo não sejam muito simpáticas a isso), pistões, anéis, válvulas, virabrequim, volante, hastes, pinos de pulso, etc.

A única parte aparentemente complicada de um EV, para o público, parecerá ser o controlador de motor, basicamente uma caixa eletrônica de controle e potência. Mas essa  mesma caixa, sob a denominação “inversor de frequência” vem sendo utilizada em larga escala, já por mais de duas décadas, pela indústria de máquinas de automação industrial, em geral, e mais especificamente ainda, em máquinas de movimentação de carga. Por ser assim, tão bem desenvolvida, hoje um inversor de frequência é bastante barato e, o que é melhor, tem muito longa durabilidade.

Deste modo, pelo menos pelos próximos 10 anos, o foco de denvolvimento continuará sendo sobre as tecnologias de baterias. Mesmo com a tecnologia atual, ter que produzir 1.000.000 de pacotes de baterias / ano já é algo grandioso e desafiador para a humanidade. Toda a eletrônica de controle e potência está tecnologicamente  madura. A máquina elétrica (motor) também. Será a capacidade  do volume de produção de pacotes de baterias, com qualidade, que irão determinar os limites para a quantidade de veículos elétricos montados e vendidos no mundo. Já, os métodos de abastecimento e questões correlatas como a capacidade das redes elétricas em suprir da melhor forma as necessidades, os horários de abastecimento, etc, que permanecerão como tópicos de grande foco de periferia da tecnologia dos EVs.

Seja como for, o sucesso dos veículos elétricos hoje, já não é mais tão dependente dos interesses e das ações unilaterais de uma única instituição, como foi o caso da Air Resources Board, como ele foi antes. Quando o Estado da Califórnia aprovou em 1990 o mandato para ditar quantos veículos livre de emissões as montadoras de automóveis deveriam apresentar ao mercado, desde então, aquele conselho revisou os números quatro vezes, sendo mais recentemente em 2003 - quando ele reduziu significativamente o número de ZEVs.

É preciso ficar atento e perceber que os veiculos elétricos se tornaram, hoje, um negócio mundial,  irreversível. Esse negócio, já não depende mais das pessoas pensarem em comprar um veículo elétrico porque estariam, autruistamente, “salvando o planeta”, elas o comprarão, simplesmente por que é o melhor negócio a ser feito. Com relação ao negócio do veículo puramente elétrico, felizmente, chegamos ao ponto em que, debaixo do sol, não há nada mais que possa detê-lo.

A foto lá embaixo é apenas uma brincadeirinha para quem tem senso de humor, mas o documentário, cujo link eu posto a seguir é sério e muito bem produzido. Vale a pena conferir:

Documentário "Quem Matou o Carro Elétrico?" - Legendado em Português

Senta e relaxa para assistir o documentário!

Quem matou o carro elétrico? Who killed the electric car?

Veja também:

Carlos Ghosn e "A Vingança do Carro Elétrico"




Sistema de Transmissão de um Veículo Elétrico (Nissan LEAF Powertrain)



13 comentários:

  1. J A A
    Para mim que destruiu este carro elétrico fez o mundo andar para traz 100 anos é responsável pelo meio ambiente que se aproxima na camada do ozono e só pensou nos seus interesses lucros na venda de petróleo esqueceu o mundo em que ele próprio vive bom não vou apontar culpados mas quem era presidente dos EUA era G W Buche uma oportunidade para os fabricantes de armas comecem a fabricar carros elétricos não vai haver necessidade de bombardear países por causa do petróleo

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    1. "que destruiu este carro elétrico fez o mundo andar para traz" ... pura verdade, colega J.A.A., todavia, graças a Deus, nem foi por tanto tempo assim! Leia também, Carlos Ghosn e "A Vingança do Carro Elétrico" em http://automoveiseletricos.blogspot.com.br/2012/07/carlos-ghosn-e-vinganca-do-carro.html

      Saudações e um ótimo ano de 2013 para você e seus entes queridos.

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    2. Documentario em apenas duas partes:
      http://www.youtube.com/watch?v=izc4Cfw2oiQ

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    3. Ok, obrigado pelo link do youtube, realmente está ali como você disse (em duas partes) desde 02/10/2012! Todavia eu vou continuar recomendando que vejam o vídeo postado no Vimeo (cujo link já se encontra incorporado na postagem, disposto pouco acima da foto do "cão sentado"), pois eu acredito que a maioria dos leitoras irá apreciar as legendas em português! Por falar em legendas em português, estou procurando o outro vídeo documentário "Revenge of the Electric Car", também com legendas em português. Quem puder ajudar, eu agradeço. Abraços!

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    4. Novo link Multi-Subtitles http://www.youtube.com/watch?v=FD1CUdsCqvE

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    5. Valeu, obrigado, youtubeiando! Está ai mais uma opção!

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  2. JAA

    O anterior primeiro-ministro José Sócrates tinha lançado a 11 de Fevereiro a primeira pedra da fábrica de baterias para carros eléctricos da Nissan em Cacia, Aveiro, que representaria um investimento de 156 milhões de euros e a criação de 200 postos de trabalho.
    o passos coelho ao chegar ao governo cancelou este fabrico, será que também vende petróleo ou recebeu alguma prenda petrolifica para a campanha eleitoral para tal decisão

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    1. Eu soube, assim, por cima, a cerca da suspensão de um projeto da Nissan ai em Aveiro - PT. Mas confesso que desconheço as questões políticas ligadas ao fato. Seja como for, penso ter sido muito lamentável. Portugal perdeu (ou retardou) uma belíssima grande oportunidade.

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    2. ONDE A ENTERESSES ECONOMICOS A CORRUPÇAO E LAMENTAVEL

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    3. O pior, caro Anônimo, é que eu sou forçado a concordar com o colega.

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  3. SOU DE PORTUGAL MAS LAMENTO DE DIZER ISTO MAS TODOS OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA SÃO TODOS CORRUPTOS SEM EXSEÇAO

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    1. Entretanto, duvido que o seu país corrupto seja mais corrupto do que o meu país corrupto. (kk kk kk kkk kk kk k kk).

      Hoje mesmo, para o senhor ter uma ideia, a mesma cambada de Senadores safados que faltaram a reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado do brasil, só para eles não terem que votar o FIM DO FORO PRIVILEGIADO (ou seja, o fim do Foro Especial por Prerrogativa de Função), estão em Brasilia, sim, agora mesmo, jantando com o Presidente que vive a Temer (k kk kk kk k ) e a gastar, com o dinheiro dos nossos impostos.

      O brasileiro, de fato, trocou uma presidenta que não falava coisa com coisa, por um presidente pouco significante, que é só mais um elo na cadeia sem fim de rabos presos da política clientelista brasileira.

      (coisa que é muito significante, pois, significa, exatamente, que o Brasil não está indo para lugar algum, a não ser para o lugar de onde ele nunca saiu: o Palácio das Falácias e das Corrupções).

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  4. SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DA MATRIZ ENERGÉTICA DO PLANETA!
    “CÉZARSWELL”!
    FONTE DE ENERGIA RENOVÁVEL LIMPA E SUSTENTÁVEL!
    "NOVA ENERGIA"
    COMBUSTÍVEL DO FUTURO!
    Extrair energia de um movimento Mecânico, é criar uma nova Fonte de Energia, uma forma de obtermos um combustível, que pode movimentar máquinas e motores, sem deixar escasso as matérias primas existentes, que são muito caras, e com isso protegemos o Meio Ambiente e o Futuro do Planeta!
    O funcionamento interno da FONTE DE ENERGIA LIMPA, ou sistema, é sempre deixar a estrutura instável, e, toda vez que o sistema tenta retornar a uma estrutura estável, o sistema gira um eixo de um rotor, passando a gerar energia elétrica, ou um torque de um motor, tornando-se um motor gravitacional.
    Nessas tentativas por várias vezes, continuamente, sempre com a intenção de deixar a estrutura estável, o sistema passa a ser um sistema contínuo.
    Através desse sistema contínuo, geramos energia infinita, pois o sistema não perde energia, e sim, ganha energia.
    O sistema passa a ser sustentável, inclusive não emite gases que polui o meio ambiente, devido sua estrutura ser totalmente de movimentos mecânicos, e não, de matéria prima que provém da química, ou de matéria prima escassa, quando extraído degrada o meio ambiente.
    O sistema para sua fabricação em série, é manufaturado em qualquer país, pois, sua estrutura, o material é constituído de preferência totalmente de qualquer FERRO RECICLADO, ferro de baixa qualidade, de baixo custo, pois para a estrutura o que interessa é apenas seu peso, inclusive ajuda seu reaproveitamento, reciclando para mesma estrutura, material existente em abundância em qualquer lugar do planeta.
    O sistema como motor gravitacional, quando utilizado em veículos, gera torque através de movimentos totalmente mecânicos, não precisando de energia elétrica, sendo um aliado a matriz energética, aliviando assim o consumo de energia elétrica do país.
    O que não se pode dizer a mesma coisa dos carros elétricos, desde o início da fabricação das baterias até sua reposição, polui o meio ambiente, e são inseguras de contra fogo após um acidente de trânsito, inclusive os mesmos são consumidores em potencial de energia elétrica, desestabilizando a matriz energética do país!

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